Genebra, 27 mar 2021 (Lusa) - A ONU disse hoje estar "chocada" com as dezenas de mortes, incluindo crianças, na repressão aos manifestantes pró-democracia, que protestam hoje em várias cidades de Myanmar.
"Ainda não fomos capazes de confirmar esta informação de maneira independente, mas recebemos vários relatórios credíveis de muitas partes do país - pelo menos 40 locais diferentes -- que relatam que unidades policiais e militares responderam a manifestações pacíficas com força letal", disse à AFP um porta-voz da Alta Comissariada das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani.
Segundo a Alta Comissária, "até agora, o número de mortos aumentou para 83-91 pessoas mortas e há centenas de feridos. Há quatro relatos de crianças que foram mortas, incluindo pelo menos um bebé".
Antes, numa declaração no seu 'Twitter', a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, referiu estar "chocada" com a violência e com as "prisões em massa".
"Recebemos relatos de dezenas de mortes, incluindo crianças, centenas de feridos em 40 localidades e prisões em massa. Essa violência agrava a ilegitimidade do golpe e a culpabilidade de seus líderes", refere.
Ativistas pró-democracia convocaram uma nova ronda de manifestações no "Dia do Exército".
Um gigantesco desfile militar é organizado todos os anos neste dia em frente ao chefe do exército, agora chefe da junta governante, o general Min Aung Hlaing.
A violência explodiu quando as forças de segurança abriram fogo contra os manifestantes.
Essa "violência torna o golpe ainda mais ilegítimo e agrava a culpabilidade de seus líderes", escreveu no Twitter a porta-voz da ONU Ravina Shamdasani.
Também a embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) na Birmânia, a União Europeia e a Grã-Bretanha já tinham condenado hoje a junta militar governante por "matar civis desarmados", num dia em que a repressão a novos protestos pró-democracia no país deixou pelo menos 91 mortos.
Num "dia de desgraça", as autoridades militares da antiga Birmânia (atual Myanmar) desencadearam neste sábado um massacre contra dezenas de civis, incluindo crianças, e o número de mortos é de pelo menos 91 pessoas, de acordo com o órgão de comunicação social local Myanmar Now, citado pela Efe.
Este é o dia com mais mortes desde o golpe de 01 de fevereiro liderado pelo chefe do Exército e da junta militar, Min Aung Hlaing, que hoje presidiu a um desfile militar por ocasião do Dia das Forças Armadas na capital, Naipiyidó.
De acordo com a contagem do Myanmar Now, as mortes ocorreram durante manifestações em cerca de 40 cidades em regiões e estados como Rangoon, Mandalay, Sagaing, Bago, Magwe, Tanintharyi e Kachin.
O número total de mortos, que até sexta-feira era de pelo menos 328, ultrapassa agora os 400.
Apesar da repressão com gás lacrimogéneo, borracha e munições reais, milhares de birmaneses desafiaram mais uma vez os militares e a polícia, inclusive em situações que puderam ser seguidas quase ao vivo nas redes sociais.
Os soldados e a polícia cumpriram a ameaça que a televisão e a rádio estatais transmitiram na sexta-feira - a de que atirariam nas costas e na cabeça dos manifestantes.
A maioria dos mortos nas manifestações desde o início de fevereiro foi atingida com tiros, muitos deles na cabeça.
Enquanto Min Aung Hlaing presidiu ao desfile em Naipyidó, para comemorar o Dia das Forças Armadas, muitos manifestantes falavam em "dia contra a ditadura militar" e "dia da desgraça".
O general referiu que sua missão é "defender a democracia" e prometeu realizar eleições sem especificar uma data específica.
Desde o golpe de Estado militar que se repetem nas ruas birmanesas as manifestações de protesto, ações que têm sido marcadas pela violência policial e do exército.
"Chegou novamente o momento de combater a opressão militar", declarou um dos líderes dos protestos, Ei Thinzar Maung, na rede social Facebook.
No dia 01 de fevereiro, os generais birmaneses tomaram o poder alegando fraude eleitoral nas legislativas do passado mês de novembro e contestando a vitória de Aung San Suu Kyi.
Desde o golpe de Estado repetem-se as manifestações de protesto marcadas pela violência policial e do exército.
De acordo com a AAPP, mais de 2.800 pessoas, incluindo políticos, estudantes e monges, foram detidas na sequência do golpe de estado.
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