Manifestantes pró-democracia protestam após fim de semana sangrento

Manifestantes pró-democracia estiveram, mais uma vez, nas ruas de Myanmar, durante a madrugada de hoje, apesar da repressão sangrenta do fim de semana, fortemente condenada pela comunidade internacional e que provocou mais de 100 mortos, incluindo várias crianças.

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Lusa
29/03/2021 14:23 ‧ 29/03/2021 por Lusa

Mundo

Myanmar

O exército birmanês, que derrubou a chefe do governo civil, Aung San Suu Kyi, em 01 de fevereiro, através de um golpe militar, tem reprimido de forma violenta os protestos diários que exigem o regresso da democracia e a libertação de ex-líderes.

As Nações Unidas estimaram que o número de mortos registados no sábado -- quando foi assinalado o Dia das Forças Armadas - nas manifestações contra a junta militar, no poder - atinge 107 pessoas, incluindo sete crianças, mas estima que o número aumente, até porque a imprensa local já faz referência a 114.

A Myawaddy TV, controlada pelos militares, contabilizou "apenas" 45 mortos no sábado, justificando a repressão com a alegação de que os manifestantes estavam a usar armas e bombas contra as forças de segurança.

Pelo menos 459 pessoas foram mortas desde o dia em que foi feito o golpe, 13 das quais no domingo, de acordo com o último relatório da Associação de Assistência a Presos Políticos, uma organização não-governamental local que identifica as vítimas da repressão.

As reações internacionais começaram a surgir logo no domingo, tendo o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, considerado que a situação "é terrível" e "absolutamente escandalosa".

A União Europeia também condenou "a escalada inaceitável de violência" e "o caminho sem sentido" escolhido pela junta militar, num comunicado divulgado pelo responsável pela diplomacia, Josep Borrell, que se referiu a domingo como um "dia de horror e vergonha".

"As ações vergonhosas, cobardes e brutais dos militares e da polícia - que foram filmados a disparar sobre os manifestantes enquanto fugiam e que nem pouparam crianças - devem parar imediatamente", considerou também a ONU, num comunicado conjunto assinado pela Alta Comissária para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, e pela conselheira especial para a Prevenção do Genocídio, Alice Wairimu Nderitu.

Uma declaração conjunta dos chefes das forças de defesa de 12 países, incluindo os Estados Unidos, o Reino Unido, o Japão e a Alemanha, denunciou, na noite de sábado para domingo, o uso de força pelo exército birmanês contra "civis desarmados".

Os manifestantes saíram novamente para as ruas durante a madrugada de hoje, no estado de Kachin (norte), e vários estudantes tomaram as ruas em Monywa, na região de Sagaing (centro) e de Mawlamyine (Moulmein), no estado de Mon (sudeste), de acordo com a imprensa local.

Centenas de pessoas também se manifestaram na Prato, região de Mandalay (centro), com cartazes que garantiam: "o povo nunca será derrotado".

Ao mesmo tempo, os funerais das vítimas da repressão do fim de semana continuam a realizar-se, tendo centenas de pessoas prestado hoje homenagem a uma estudante de enfermagem de 20 anos que foi morta a tiro enquanto ajudava a tratar os manifestantes feridos.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico aconselhou hoje os seus cidadãos presentes em Myanmar (antiga Birmânia) a deixarem o país o mais rapidamente possível, após "um aumento significativo do nível de violência".

No domingo, a embaixada norte-americana em Rangum também pediu aos seus cidadãos para limitarem os seus movimentos, apelando a que sejam "cuidadosos".

No estado de Karen (sudeste), a União Nacional Karen (KNU), um dos principais movimentos de rebelião de minorias étnicas do país, foi alvo de um ataque aéreo no fim de semana, o primeiro em 20 anos, o que provocou quatro mortos e nove feridos, segundo Hsa Moo, do grupo étnico Karen e ativista de direitos humanos.

Cerca de 3.000 pessoas fugiram de novos ataques na noite de domingo, cruzando a fronteira para a Tailândia.

O primeiro-ministro tailandês, Prayut Chan-o-Cha, afirmou hoje aos jornalistas, em Banguecoque, que os militares estavam a preparar-se para receber mais refugiados birmaneses.

Durante o Dia das Forças Armadas, no sábado, o líder da junta militar, o general Min Aung Hlaing, justificou novamente o golpe com a alegação de que houve fraude nas eleições de novembro, vencidas pelo partido de Aung San Suu Kyi, e prometeu novas eleições.

Min Aung Hlaing advertiu, no entanto, que atos de "terrorismo que podem prejudicar a paz e a segurança do Estado são inaceitáveis".

Desde 01 de fevereiro que milhares de pessoas se têm manifestado contra o golpe militar, sobretudo na capital económica, Rangum, e em Mandalay, a segunda maior cidade do país.

Nas últimas semanas, os generais birmaneses têm intensificado o recurso à força para enfraquecer a mobilização a favor do regresso do Governo civil.

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