Na região, que faz fronteira com a Nigéria, o Boko Haram "intensificou os ataques contra civis em cidades e aldeias", onde também saqueou centenas de casas nos últimos quatro meses, afirmou o grupo de defesa de direitos num comunicado datado de Nairobi.
O grupo terrorista "está a travar uma guerra contra o povo dos Camarões a um custo humano alarmante", alertou Ilaria Allegrozzi, investigadora sénior da HRW para África.
"À medida que a região norte dos Camarões se torna cada vez mais o epicentro da violência de Boko Haram, o país deve adotar e implementar urgentemente uma nova estratégia respeitadora dos direitos para proteger os civis", sublinhou Allegrozzi.
Após entrevistar mais de 20 vítimas, famílias das vítimas, testemunhas, ativistas e trabalhadores humanitários, a HRW documentou, entre outros ataques, como uma bombista suicida do Boko Haram se fez explodir entre civis em fuga, como dezenas de pescadores locais foram cortados até à morte com catanas e facas, e como um chefe de aldeia idoso foi morto em frente da sua família.
A investigação sugere que "o número real de baixas é muito superior", dada a dificuldade de confirmar detalhes remotamente e porque alguns ataques não são divulgados.
Um dos ataques mais mortíferos ocorreu na cidade de Mozogo a 08 de janeiro, quando membros de Boko Haram mataram pelo menos 14 civis, incluindo oito crianças, e feriram outros três, incluindo dois menores.
Enquanto os terroristas disparavam contra os residentes e saqueavam as suas casas, uma mulher infiltrou-se num grupo de civis em fuga e depois detonou o seu colete de explosivos, disseram as testemunhas.
"Quando o tiroteio começou, fugi para a floresta", disse um residente de 41 anos citado pela HRW.
"Ouvi uma poderosa explosão e deitei-me no chão. Vi um rapaz de 07 anos coberto de sangue a correr na minha direção. Ele levou-me ao local onde a "kamikaze" detonou o seu colete de explosivos. Foi um banho de sangue", acrescentou.
Apesar dos avisos da organização, o ministro da Administração Territorial dos Camarões, Paul Atanga Nji, afirmou a 12 de fevereiro que a situação de segurança no extremo norte está "sob controlo" e que Boko Haram está "a viver os seus últimos dias".
Boko Haram luta desde 2009 para impor um Estado islâmico na Nigéria - um país com uma predominância muçulmana no norte e uma maioria cristã no sul - e pretende transformar a área do Lago Chade - que também inclui territórios no Níger, Chade e norte dos Camarões - na sua fortaleza.
Uma força multinacional conjunta composta pela Nigéria, Níger, Camarões e Chade tem vindo a combater os 'jihadistas', enfraquecendo a insurreição de Boko Haram, que, no entanto, continua a lançar ataques indiscriminados contra zonas vulneráveis.
Leia Também: Portugal recebeu oito migrantes resgatados na costa italiana