HRW denuncia morte de civis em ataques do Boko Haram nos Camarões

Pelo menos 80 civis foram mortos na região norte dos Camarões desde dezembro em ataques do grupo 'jihadista' nigeriano Boko Haram, disse hoje a organização não-governamental Human Rights Watch (HRW).

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Lusa
05/04/2021 17:09 ‧ 05/04/2021 por Lusa

Mundo

Boko Haram

Na região, que faz fronteira com a Nigéria, o Boko Haram "intensificou os ataques contra civis em cidades e aldeias", onde também saqueou centenas de casas nos últimos quatro meses, afirmou o grupo de defesa de direitos num comunicado datado de Nairobi.

O grupo terrorista "está a travar uma guerra contra o povo dos Camarões a um custo humano alarmante", alertou Ilaria Allegrozzi, investigadora sénior da HRW para África.

"À medida que a região norte dos Camarões se torna cada vez mais o epicentro da violência de Boko Haram, o país deve adotar e implementar urgentemente uma nova estratégia respeitadora dos direitos para proteger os civis", sublinhou Allegrozzi.

Após entrevistar mais de 20 vítimas, famílias das vítimas, testemunhas, ativistas e trabalhadores humanitários, a HRW documentou, entre outros ataques, como uma bombista suicida do Boko Haram se fez explodir entre civis em fuga, como dezenas de pescadores locais foram cortados até à morte com catanas e facas, e como um chefe de aldeia idoso foi morto em frente da sua família.

A investigação sugere que "o número real de baixas é muito superior", dada a dificuldade de confirmar detalhes remotamente e porque alguns ataques não são divulgados.

Um dos ataques mais mortíferos ocorreu na cidade de Mozogo a 08 de janeiro, quando membros de Boko Haram mataram pelo menos 14 civis, incluindo oito crianças, e feriram outros três, incluindo dois menores.

Enquanto os terroristas disparavam contra os residentes e saqueavam as suas casas, uma mulher infiltrou-se num grupo de civis em fuga e depois detonou o seu colete de explosivos, disseram as testemunhas.

"Quando o tiroteio começou, fugi para a floresta", disse um residente de 41 anos citado pela HRW.

"Ouvi uma poderosa explosão e deitei-me no chão. Vi um rapaz de 07 anos coberto de sangue a correr na minha direção. Ele levou-me ao local onde a "kamikaze" detonou o seu colete de explosivos. Foi um banho de sangue", acrescentou.

Apesar dos avisos da organização, o ministro da Administração Territorial dos Camarões, Paul Atanga Nji, afirmou a 12 de fevereiro que a situação de segurança no extremo norte está "sob controlo" e que Boko Haram está "a viver os seus últimos dias".

Boko Haram luta desde 2009 para impor um Estado islâmico na Nigéria - um país com uma predominância muçulmana no norte e uma maioria cristã no sul - e pretende transformar a área do Lago Chade - que também inclui territórios no Níger, Chade e norte dos Camarões - na sua fortaleza.

Uma força multinacional conjunta composta pela Nigéria, Níger, Camarões e Chade tem vindo a combater os 'jihadistas', enfraquecendo a insurreição de Boko Haram, que, no entanto, continua a lançar ataques indiscriminados contra zonas vulneráveis.

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