Testemunhando em mais uma sessão do julgamento do ex-agente Derek Chauvin, acusado de homicídio do afro-americano em maio de 2020, o instrutor de uso de força na Polícia de Minneapolis, tenente Johnny Mercil, afirmou que o procedimento treinado é pressionar o joelho contra as costas ou ombro, evitando o pescoço "quando possível".
Segundo documentação hoje apresentada ao tribunal, Chauvin recebeu formação sobre uso de força em 2018.
As imagens da detenção de Floyd, com Chauvin a pressionar o pescoço por mais de nove minutos, apesar de o detido gritar "não consigo respirar", causaram motins em todos os Estados Unidos no verão passado, com a vítima a tornar-se símbolo da violência policial contra os afro-americanos.
É esperado um veredicto para o ex-agente no fim de abril ou no início de maio.
Os outros três polícias que participaram na detenção - Alexander Kueng, Thomas Lane e Tou Thao - serão julgados em agosto, acusados de cumplicidade no homicídio.
Também hoje, os jurados do julgamento de Chauvin ouviram o testemunho do sargento Ker Yang, responsável da Polícia de Minneapolis para treino de intervenção de crise, que afirmou que a política transmitida aos agentes é de "abrandar as coisas, reavaliar e repensar".
A defesa de Chauvin baseia-se no facto de o agente ter seguido o que o treino policial prescreve e que a morte de Floyd se deveu ao consumo excessivo de drogas e não a asfixia causada pela pressão sobre o seu pescoço.
Confrontado com a defesa com instantes do vídeo de 9 minutos de imobilização de Floyd, em que o joelho de Chauvin faz pressão sobre as suas costas e ombros, Mercil reconheceu que não era o pescoço que estava a ser pressionado nessas imagens.
Outra testemunha chamada pela acusação, Jody Stiger, sargento da Polícia de Los Angeles e perita de uso de força, disse que a intervenção dos agentes foi justificada enquanto Floyd resistiu a ser levado para dentro da viatura policial, mas que uma vez imobilizado no chão não havia razão para manter a mesma abordagem.
"Na minha opinião, o uso de força foi excessivo", adiantou.
Nicole Mackenzie, responsável pelo treino em primeiros socorros, disse que Chauvin estava habilitado para prestar assistência, e tinha mesmo obrigação de o fazer antes da chegada dos paramédicos.
Na segunda-feira, o chefe da Polícia de Minneapolis, Medaria Arradondo, afirmou que pressionar o pescoço do detido com o joelho depois de este estar algemado e de borco, como fez o ex-agente, "não é de alguma maneira, forma ou feitio" parte das normas ou treino policial.
"Certamente que não é parte da nossa ética e valores", adiantou Arradondo, que na sequência da morte de Floyd em 2020 demitiu Chauvin e os outros três agentes que o acompanhavam.
Arradondo, o primeiro afro-americano a dirigir a polícia de Minneapolis, defendeu no passado que o caso de Floyd é de "homicídio".
No início da segunda semana do julgamento, os jurados ouviram o testemunho do médico que declarou o óbito de Floyd, Bradford Langenfeld, que disse não ter tido conhecimento de quaisquer esforços para reanimar a vítima antes da intervenção dos paramédicos.
Baseado nas informações disponíveis, disse, "o mais provável" é que a paragem cardíaca de Floyd tenha sido causada por "asfixia ou falta de oxigénio".
Na sexta-feira, o agente mais experiente da Polícia de Minneapolis, Richard Zimmerman, considerou em tribunal "absolutamente desnecessária e injustificada" a "força mortal" usada contra Floyd.
"Colocá-lo de bruços com um joelho no pescoço por tanto tempo foi simplesmente injustificado, absolutamente desnecessário", afirmou Zimmerman, acentuando que "ajoelhar sobre o pescoço de alguém pode matar", é uma "força mortal".
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