"É preciso pelo menos um helicóptero de carga grande porque há zonas isoladas em vários pontos do país, com estradas cortadas e onde não se consegue fazer chegar abastecimento às populações por via rodoviária", disse à Lusa o secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), maior partido do Governo.
O responsável timorense disse que o Governo deveria já ter declarado formalmente o estado de calamidade para melhor receber apoios, tanto nacionais como internacionais, e garantir que esse processo é célere.
"Já devíamos ter formalizado os pedidos de ajuda. O impacto desta calamidade foi enorme a nível internacional, mas não temos sabido gerir esse impacto. Devíamos reunir o corpo diplomático e a ONU e fazer esse pedido", considerou.
"Mas o pedido tem que ser bem feito, sistematizado e estruturado. Não é só dizer que estamos a sofrer, isso não chega. Temos que detalhar o que precisamos e o objetivo, para convencer a comunidade internacional que o apoio que vier ser disponibilizado a Timor-Leste vai ser usado para realmente mitigar e minimizar o sofrimento do povo", considerou.
Alkatiri destacou ainda os problemas de fornecimento de energia em alguns locais, incluindo em vários ministérios e estruturas como a própria Proteção Civil, que em alguns casos deixaram de funcionar há bastante tempo e nunca foram reparados.
"Isso mostra claramente que o que se tem feito neste país se tem feito de forma muito empírica. Não há o mínimo de plano, não há o mínimo programa a ser cumprido. É tudo feito sobre os joelhos", afirmou.
Alkatiri reuniu-se hoje com o embaixador dos Estados Unidos em Díli, explicando que não tem competências nem mandatos para formalizar pedidos, mas que analisou com o diplomata as carências urgentes atuais, eventualmente com o apoio de forças humanitárias militares ou de emergência.
"É algo que precisamos. Falei sobre isso, porque precisamos de apoio. Mas não tem que vir dos Estados Unidos, porque temos vizinhos aqui que podem apoiar, a Austrália e a Nova Zelândia. Portugal já ofereceu apoio, mas a esta distância é mais complicado", frisou.
Para que o apoio possa ser canalizado, insistiu, é necessário um plano detalhado e levantamento de dados, porque não se trata apenas de mandar dinheiro para o país.
"Não pensem que isto é um saco azul. Mesmo se vier dinheiro, as contas têm que ser apresentadas depois. Sem um relatório credível de contas, no futuro ninguém nos apoia", insistiu.
Relativamente ao impacto na cidade de Díli, Alkatiri disse que há agora uma nova oportunidade de se fazer correções no planeamento urbano e na construção, recordando que chegou a ser feito um plano de ordenamento, com o apoio da organização portuguesa Gertil, que "ficou na gaveta".
"A calamidade que temos agora começou em 2007. Agora, em alguns locais, bastam duas horas de chuva em Díli e há já pequenas calamidades em várias famílias. Desta vez os danos foram maiores porque nos últimos 13 ou 14 anos não se respeitou minimamente o plano e ordenamento", sublinhou.
Drenagem, saneamento e reforçar ribeiras são prioridades, mas importa igualmente evitar que as pessoas voltem a construir as casas nos mesmos locais. "Temos que rapidamente identificar zonas mais seguras, urbanizá-las minimamente. Não podemos simplesmente reconstruir as casas nas zonas em a água já provou várias vezes que faz danos", explicou.
Igualmente problemático tem sido o facto de em muitos locais a terra de ribeiras ser retirada, aquando de cheias ou maior fluxo de água, mas depois ser deixada nas margens, sendo arrastada na chuvada seguinte.
"Quando se tira terra ou areia não se deve deixar no sítio, essa areia é que depois vai arrastar o resto. É um princípio básico que nunca foi respeitado aqui", considerou.
As cheias que assolaram Timor-Leste causaram pelo menos 42 mortos e mais de 10 mil deslocados, segundo um balanço provisório da Proteção Civil.
Leia Também: Número de mortos sobe para 42. Há dez mil desalojados em Díli