Kim Jong-un já se tinha pronunciado sobre as dificuldades mais "sérias do que nunca" devido a vários fatores incluindo os efeitos da crise sanitária, as sanções impostas pelos Estados Unidos e as cheias do verão passado mas trata-se da primeira vez que se refere publicamente à fome estabelecendo um paralelo com a situação que o país enfrentou nos anos 1990.
Os grupos de investigação que fazem a monitorização da Coreia do Norte não detetaram sinais de fome ou desastre humanitário no país mas os comentários do líder sugerem a forma como o poder encara as dificuldades atuais.
Observadores internacionais afirmam que a atual situação é o maior teste político desde que Kim Jong-un chegou ao poder há nove anos.
"Temos muitos obstáculos e dificuldades à nossa frente e esta é a nossa luta para que as decisões do Oitavo Congresso sejam cumpridas", disse o líder do regime norte-coreano aos membros do partido único na quinta-feira, segundo notícias publicadas pela KCNA, a agência oficial de notícias da Pyongyang.
O termo "marcha árdua" é um "eufemismo" que a Coreia do Norte usa para descrever as dificuldades relacionadas com a fome na década de 1990 e que foi precipitada pela queda da União Soviética, por décadas de má gestão e pelos múltiplos desastres naturais.
Não se conhece o número exato de mortes dos anos 1990, variando de vários milhares até dois ou três milhões de vítimas.
O último discurso de Kim Jong-un decorreu na cerimónia de encerramento de um encontro do partido único com milhares de militantes de base e secretários de célula da ditadura comunista.
Na abertura do encontro, Kim Jong-un falou da implementação de medidas públicas para enfrentar "a maior situação de sempre" e que tudo depende das células do partido.
Em janeiro, durante o congresso do partido, o líder da Coreia do Norte pediu aos membros da estrutura para construírem uma economia mais forte, redução da dependência das importações e aumento da produção de bens de consumo.
Os analistas consideram que as posições de Kim Jong-un não são eficazes porque o país é mal gerido, isolou-se internacionalmente e é afetado pelas sanções impostas por causa do programa nuclear.
Informações de Pequim indicam que a balança comercial com a República Popular da China, o maior parceiro e aliado, diminuiu 80% desde 2020, altura do encerramento das fronteiras como medida para travar a propagação da pandemia do novo coronavírus.
Para os especialistas, a Coreia do Norte não teve outra opção se não o encerramento das fronteiras caso contrário podia verificar-se o colapso total do sistema de saúde.
Cha Deok-cheol, vice-porta voz do Ministério da Reunificação do Executivo da Coreia do Sul, disse hoje aos jornalistas que existem sinais de que a Coreia do Norte está a criar condições para abrandar a situação nas fronteiras com a República Popular da China e referiu-se às informações de Pyongyang que pretende montar instalações nos postos fronteiriços e aprovar legislação sobre um novo processo de desinfeção dos produtos importados.
Especialistas consultados pela Associated Presse afirmam que a República Popular da China não vai deixar que se verifique um desastre humanitário provocado pela fome, na Coreia do Norte, até porque quer evitar uma eventual vaga de refugiados.
A ajuda ficou patente depois do encontro entre o líder norte-coreano e o Presidente chinês, em Pequim, em março, prevendo-se, segundo analistas, o envio de fertilizantes e produtos agrícolas chineses capazes de atenuar as dificuldades alimentares da Coreia do Norte.
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