"O Governo não tem estado a fazer grande esforço de mobilização de fundos para apoiar os deslocados, quando equiparado, por exemplo, com a mobilização de fundos para fazer face à covid-19", referiu o Centro de Integridade Pública (CIP), num relatório sobre a situação dos deslocados.
Segundo o relatório, que se baseia numa pesquisa efetuada em áreas de acolhimento definitivo nas províncias de Cabo Delgado e Nampula, a situação dos deslocados é calamitosa, havendo casos de famílias que não recebem apoios há mais de dois meses.
De acordo com dados da ONG, até fevereiro deste ano, Cabo Delgado tinham um total de 21 centros de acolhimento definitivo para deslocados, com cerca de 10 mil famílias, enquanto em Nampula tem um, com 2.500 pessoas.
"Nas novas aldeias de reassentamento falta um pouco de tudo, desde alimentação, abrigo, utensílios domésticos e vestuário", referiu o relatório do CIP, acrescentando que a má gestão da crise de deslocados de guerra pode gerar ambiente propício nas áreas de reassentamento para a multiplicação do conflito armado que deflagra no norte da província.
A organização sugeriu que o Governo reforce o orçamento para as províncias que acolhem deslocados, como forma de melhorar a situação das comunidades nas novas aldeias, bem como apoiá-las na construção de novos abrigos.
Segundo o CIP, é necessário também, em coordenação com os parceiros, "dedicar atenção e apoio especial às famílias vulneráveis de deslocados, destacadamente aquelas chefiadas por crianças, idosos e mulheres".
O Governo moçambicano precisa de um total de 7 mil milhões de meticais (94 milhões de euros) para o plano de gestão dos deslocados devido à violência armada em Cabo Delgado, anunciou hoje o Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD).
A cidade de Pemba, capital de Cabo Delgado, tem sido o principal destino das populações que fogem dos ataques armados que começaram em 2017 em distritos mais a norte da província, albergando atualmente quase o dobro da sua capacidade, mas há quem prefira fugir para outras províncias vizinhas, como Nampula e Niassa.
A violência armada em Cabo Delgado começou há mais de três anos, mas ganhou uma nova escalada há duas semanas, quando grupos armados atacaram pela primeira vez a vila de Palma, a cerca de seis quilómetros dos multimilionários projetos de gás natural.
Os ataques provocaram dezenas de mortos e obrigaram à fuga de milhares de residentes de Palma, agravando uma crise humanitária que atinge cerca de 700 mil pessoas na província, de acordo com dados das Nações Unidas, e com cerca de 2.500 óbitos desde o início do conflito, segundo contas feitas pela Lusa.
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