Índigenas Yanomami denunciam que garimpeiros trocam ouro por vacinas

Indígenas Yanomami denunciaram ao Ministério da Saúde brasileiro e ao Ministério Público Federal (MPF) um suposto esquema em que profissionais de Saúde trocaram com garimpeiros vacinas contra a covid-19 por ouro, noticiou terça-feira a imprensa local.

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© Guilherme Gnipper Trevisan/Hutukara

Lusa
14/04/2021 06:21 ‧ 14/04/2021 por Lusa

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Covid-19

 

A denúncia foi feita, segundo os portais de notícias G1 e UOL, na passada quinta-feira pela Hutukara Associação Yanomami, a principal organização indígena Ianomâmi no Estado de Roraima.

No ofício enviado ao MPF e à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), órgão do Ministério da Saúde, o vice-presidente da associação, Dário Kopenawa, indicou que uma técnica de enfermagem, que atuava no polo base Humuxi, disponibilizava os imunizantes aos invasores da terra indígena em troca de ouro.

Kopenawa disse ainda que foram desviados, a favor dos garimpeiros, gasolina e um gerador de energia do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami, também em troca do metal precioso.

"Essas informações são verdadeiras, passadas pelas lideranças desses locais. Nessas regiões é bem comum a troca de materiais por ouro, como remédios, e infelizmente, às vezes esses profissionais acabam por se deixar levar", afirmou Kopenawa no documento, citado pelo G1.

"É inadmissível que, no meio da insistente piora nos índices de saúde das comunidades indígenas da Terra Indígena Yanomami, e em plena pandemia da Covid-19, o órgão responsável pelo atendimento da saúde indígena tenha os seus recursos desviados para atendimento de não indígenas que trabalham no garimpo ilegal", criticou ainda a associação.

A Hutukara Associação Yanomami apontou que 26 mil doses de vacinas, destinadas aos indígenas daquela etnia, chegaram a Roraima em janeiro último, denunciando que os imunizantes ainda não foram aplicados em diversas aldeias e que apenas dois polos de saúde, dos 37 existentes, alcançaram a meta de 100% de vacinação.

Segundo a associação, até ao dia 22 de março apenas 29% dos indígenas das terras Yanomami haviam recebido as duas doses da vacina.

Num outro ofício publicado nas redes sociais, a associação alertou que os extratores ilegais de metais preciosos também têm espalhado 'fake news' sobre as vacinas para assustar os nativos, e assim evitar que sejam imunizados.

"Particularmente preocupante foi a constatação de que em algumas comunidades nenhum indígena havia sido vacinado. Por radiofonia, foi-nos informado que (...) indígenas se recusaram a tomar as vacinas após a circulação de notícias falsas via garimpeiros. (...) Paralelamente à lentidão na vacinação, assistimos a pressões para desviar as doses reservadas aos indígenas, que ainda não foram aplicadas", diz o texto publicado na página de Facebook da Hutukara Associação Yanomami.

Segundos associações e lideranças indígenas, a propagação da covid-19 entre a população Yanomami deve-se à invasão de garimpeiros, que extraem e exploram ilegalmente metais preciosos naquela região amazónica.

Associações e organizações não-governamentais indicam que há cerca de 20 mil garimpeiros ilegais nas terras Yanomami, onde vivem cerca de 27 mil indígenas, num território de 96 mil quilómetros quadrados no norte do Brasil, junto à fronteira com a Venezuela, sendo a maior área demarcada brasileira.

Segundo a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazónia Brasileira (COIAB), até 04 de abril foram contabilizados 37.037 casos de infeção entre nativos de todo o Brasil e 890 mortes. No total, 150 povos indígenas foram atingidos pela pandemia.

O Brasil enfrenta atualmente a pior fase da pandemia, com 358.425 mortes no país e 13.599.994 infetados em pouco mais de um ano.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.947.319 mortos no mundo, resultantes de mais de 136,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

 

Leia Também: África do Sul suspende utilização da vacina J&J por "precaução"

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