"Devemos estar atentos para que as negociações não se tornem erosivas. Não devem tornar-se numa forma para que certas partes prolonguem [as conversações], porque isso seria prejudicial para o país", declarou o líder espiritual iraniano num discurso transmitido pela televisão estatal.
O guia supremo emitiu estas declarações em pleno período de tensões em torno da questão do nuclear iraniano.
Ali Khamenei deu o seu acordo às discussões de Viena, mas fixou como condição, e para que o Irão regresse à estrita aplicação do texto, que Washington levante previamente todas as sanções norte-americanas aplicadas ao Irão desde 2018 -- logo após a retirada unilateral dos EUA deste acordo decidida pelo ex-Presidente Donald Trump -- e possa ser verificada a sua efetividade.
As negociações de Viena decorrem entre os Estados que ainda integram o acordo de 2015 (Alemanha, China, Rússia, França, Reino Unido e Irão), sob a égide da União Europeia (UE), garante do acordo.
Os Estados Unidos estão associados, mas indiretamente, com Teerão a recusar qualquer contacto direto, pelo menos até ao levantamento das sanções.
Khamenei repetiu que não acredita nas "promessas" dos europeus e que desconfia das promessas dos norte americanos "como da peste"
O Irão justificou ainda hoje a decisão de enriquecer urânio a 60% como resposta ao "terrorismo nuclear" e à "maldade" israelita, referindo-se ao alegado ataque contra a central de Natanz, no domingo.
"A decisão de enriquecer a 60% é a resposta à maldade", declarou o Presidente iraniano, Hassan Rohani, no Conselho de Ministros.
"O que vocês fizeram é 'terrorismo nuclear', o que nós fazemos está dentro da legalidade", afirmou referindo-se a Israel.
"Vocês não podem conspirar contra o Irão (...) nós vamos cortar-vos as mãos por cada crime, para que compreendam que não podem impedir-nos (de aceder) à tecnologia nuclear", disse ainda Rohani.
Teerão anunciou na terça-feira que vai aumentar o limite máximo para as atividades de enriquecimento de urânio (isótopo 235) de 20% para 60%, aproximando-se dos 90% necessários para ser utilizado para fins militares.
Hassan Rohani reafirmou hoje que as ambições nucleares do Irão são "pacíficas e apenas pacíficas".
De acordo com o representante permanente do Irão junto da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Kazem Gharibabadi, os preparativos para dar início à decisão estão em curso e a produção pode mesmo começar "na próxima semana", no Irão.
Numa reação a esta decisão, a França, Alemanha e Reino Unido consideraram hoje que o anúncio do Irão de enriquecer urânio a 60% constitui um "desenvolvimento grave" e um passo "contrário ao espírito" das discussões em Viena.
"Trata-se de um desenvolvimento grave porque a produção de urânio altamente enriquecido constitui uma etapa importante para a produção de uma arma nuclear", o que é "contrário ao espírito construtivo e à boa-fé destas negociações", declararam os porta-vozes dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros dos três países, signatários do acordo de 2015.
No domingo, uma explosão atingiu a fábrica de enriquecimento de urânio no complexo nuclear de Natanz e o Irão acusou Israel de sabotagem.
De acordo com o jornal New York Times, os israelitas estão implicados na operação que introduziu "clandestinamente" um engenho explosivo no interior da fábrica e que foi acionado de forma remota.
A explosão em Natanz veio abalar as tentativas negociais de Viena sobre um acordo e criticado desde o primeiro dia pelo primeiro-ministro de Israel.
Para Benjamin Netanyahu, o Irão representa uma ameaça "à existência" do Estado de Israel, uma potência nuclear não assumida, e acusa Teerão de querer construir secretamente a bomba atómica.
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