"Um dos aspetos que vamos abordar na cimeira é precisamente a necessidade de reforçar o sistema de preparação e resposta às emergências de saúde pública", como a da pandemia de covid-19, disse em entrevista à agência Lusa o chefe do Governo que assegura a presidência rotativa da comunidade de países ibero-americanos.
A 27.ª Cimeira Ibero-Americana que se realiza no Principado de Andorra num formato "semipresencial", devido à pandemia, na quarta-feira tem por lema "Inovação para o desenvolvimento sustentável - Objetivo 2030. Ibero-América perante o desafio do coronavírus".
Para o chefe do Governo de Andorra uma das mensagens do encontro de chefes de Estado e de Governo será "focada na recuperação pós-pandemia, para impulsionar a inovação, colocando-a ao serviço da Agenda 2030" das Nações Unidas, um conjunto de objetivos de desenvolvimento sustentável (sócio, económico, ambiental) e que promovem a paz, a justiça e a eficácia das instituições.
Segundo Xavier Espot, vão deslocar-se ao principado para participar presencialmente na reunião os chefes de Estado e de Governo de Portugal, Espanha, República Dominicana e Guatemala, assim como do país anfitrião, Andorra, enquanto os restantes vão intervir por via telemática.
Para além do Presidente e do primeiro-ministro de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, respetivamente, também se vão deslocar a Andorra o rei Felipe VI e do chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez.
Da América Latina vão estar presentes Alejandro Giammattei, o Presidente da Guatemala, o país que organizou a cimeira anterior, e Luís Abinader, o Presidente da República Dominicana, que substituirá Andorra na presidência rotativa da comunidade de países ibero-americanos.
O presidente em exercício da comunidade de países ibero-americanos defendeu a importância do "multilateralismo", que permite a vários países trabalharem num objetivo comum, no tratamento de problemas, como enfrentar a pandemia de covid-19 ou as questões ligadas às migrações de pessoas.
"Sem o multilateralismo não se pode enfrentar uma pandemia como a atual, que não conhece fronteiras, de forma equitativa e solidária...", considerou Xavier Espot, acrescentando que "o conhecimento e a ciência têm de estar ao serviço da humanidade, independentemente de qual seja o país e a sua riqueza".
A Cimeira Ibero-Americana foi inicialmente marcada para se realizar em novembro último, mas foi adiada devido à crise sanitária provocada pela pandemia de covid-19.
No encontro ao mais alto nível também vão ser discutidos outros temas da atualidade, como a recuperação económica, o acesso às vacinas e o efeito da crise sanitária nos grupos mais vulneráveis.
O chefe do Governo de Andorra considerou que a saída em janeiro de Donald Trump da Presidência dos Estados Unidos da América não vai alterar a forma como os países da região se relacionam.
"As relações económicas, comerciais, culturais e geopolíticas entre os Estados Unidos e a América Latina são muito importantes e não vão mudar só porque há uma mudança em um dos lados", afirmou Xavier Espot, voltando a defender o diálogo multilateral "para encontrar soluções justas e comuns, com ações coordenadas".
Outra questão que será tratada na reunião ao mais alto nível será a das migrações, em que Andorra espera poder com a sua experiência, por ter sido país de emigrantes, até aos anos 50 do século passado, e agora estar do lado dos que recebem migrantes.
"Aqui também é importante o multilateralismo e a cooperação entre Estados para tratar os desafios colocados pelas migrações", disse Xavier Espot.
Nesta área, o chefe do Governo de Andorra referiu o papel "chave" da comunidade portuguesa no "sucesso, desenvolvimento e prosperidade" do seu país.
Andorra tem mais de 10.000 cidadãos de nacionalidade portuguesa, cerca de 12% da população do país, sendo a maior comunidade estrangeira depois da espanhola.
"Esta comunidade contribuiu muitíssimo para o desenvolvimento social, económico e Cultural de Andorra", insistiu Espot, acrescentando que as relações com Portugal são "excelentes", estando ao mesmo nível daquela que o país tem com a França ou Espanha, os dois países com quem tem fronteiras terrestres.
O chefe do Governo da Andorra também referiu as "afinidades a nível internacional" com o Governo português, tendo dado como exemplos o apoio que tem dado a vários candidatos de Lisboa a cargos nas instâncias internacionais.
Os responsáveis da comunidade de países ibero-americanos deverão ratificar quatro novos programas para o seu sistema de cooperação regional: combater à violência de género, travar a transmissão de mãe para filho da doença de Chagas (tropical), proteger as línguas indígenas e promover o desenvolvimento sustentável.
Os documentos que se espera que os chefes de Estado e de Governo da comunidade de países ibero-americanos aprovem, defendem o acesso universal às vacinas contra a covid-19, propõem uma reforma urgente dos instrumentos de financiamento para que os países mais afetados pela pandemia e avançam um fundo de garantias recíprocas para reativar o setor cultural.
A comunidade ibero-americana é composta por 22 países, dos quais três europeus, Portugal, Espanha e Andorra, e 19 latino-americanos: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela, México, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Cuba e República Dominicana.
A primeira cimeira desta comunidade realizou-se em 1991, em Guadalajara, México. Os encontros repetiram-se, com periodicidade anual, até 2014. Desde então, passaram a ser de dois em dois anos.
Leia Também: AO MINUTO: 2.º caso de coágulos no Canadá; Índia teme colapso