Cancelamento de contratos indicia paragem na Total até 2022

A consultora NKC African Economics considerou hoje que o cancelamento de contratos entre a petrolífera Total e os fornecedores locais no norte de Moçambique significa que o projeto não deve ser retomado no próximo ano.

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Lusa
22/04/2021 16:38 ‧ 22/04/2021 por Lusa

Mundo

Moçambique

 

"O cancelamento dos contratos sugere que a retoma dos projetos de gás natural liquefeito na área é improvável, pelo menos durante o próximo ano", escrevem os analistas desta filial africana da consultora britânica Oxford Economics.

No comentário, enviado aos clientes e a que a Lusa teve acesso, os analistas escrevem que apesar do raio de 25 quilómetros à volta das obras, declarado como "zona especial de segurança", os insurgentes conseguiram lançar múltiplos ataques dentro da área e estão mais bem preparados do que em ataques anteriores, o que revela "novos desafios de segurança".

Para estes analistas, "o foco global no envolvimento no Estado Islâmico, em vez de nas causas das raízes locais do movimento (pobreza, falta de desenvolvimento socioeconómico) em Cabo Delgado, torna mais fácil para o Governo ignorar os falhanços políticos e a corrupção que alimenta a insurgência".

Além disso, apontam, a recusa do Governo moçambicano em permitir tropas estrangeiras "sugere que o Governo está ainda a tentar esconder a realidade da situação de segurança na área, que já causou embaraços no passado".

Lembrando a importância dos projetos de exploração para o financiamento do desenvolvimento da economia de Moçambique, a NKC African Economics escreve ainda que "o objetivo de Moçambique era ser um exportador de gás a partir de 2024, mas os projetos não vão ter sucesso neste ambiente, por isso a resposta tem de ir para além da intervenção militar e incluir o desenvolvimento socioeconómico da região".

Na quarta-feira, a agência de informação financeira Bloomberg noticiou que a petrolífera francesa Total está a cancelar contratos com empreiteiros e fornecedores locais do projeto de gás natural no norte de Moçambique, deixando as empresas em dificuldades e indiciando que o projeto pode parar durante meses.

A petrolífera abandonou por prazo indeterminado o megaprojeto de exploração de gás natural da bacia do Rovuma, maior investimento privado em África, no valor de cerca de 20 mil milhões de euros, após o ataque de um grupo armado à vila de Palma em 24 de março.

O ataque, o mais recente em três anos e meio de insurgência, provocou dezenas de mortos (ainda sem balanço oficial) entre residentes e colaboradores ligados ao projeto.

O ataque e o consequente atraso nas obras da petrolífera Total tem um impacto direto na economia do país, nomeadamente no que diz respeito à capacidade de pagar a dívida pública a partir de 2024, ano em que a taxa de juro vai subir significativamente no seguimento da renegociação dos títulos de dívida soberana ('Eurobonds').

Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.

O mais recente ataque foi feito em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.

As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expetativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.

Leia Também: Moçambique: Governo diz que contratos com a Total serão mantidos

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