A exigência foi feita durante o segundo e último dia da sessão de perguntas ao Governo na Assembleia da República.
"O setor da defesa e segurança deve ser escrutinado, porque em tempos de guerra, as elites usam este setor para o seu enriquecimento ilícito", afirmou o deputado Fernando Bismarque, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro partido parlamentar.
Insistindo na pergunta que o MDM já tinha feito na quarta-feira ao executivo sobre os custos da luta contra os "terroristas" e o recurso a "mercenários" em Cabo Delgado, Fernando Bismarque repudiou que o Governo faça "segredo" das despesas do conflito no norte do país.
"É o papel do Governo prestar contas à Assembleia da República. Não é nem deve ser nenhum segredo de Estado, porque é esta casa que aprovou o Orçamento do Estado e estamos no âmbito das nossas competências constitucionais e regimentais de fiscalização da ação governativa", afirmou aquele deputado do MDM.
Por seu turno, a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, considerou que o executivo falhou na ação governativa, apontando "a falta de respostas" às questões colocadas pela oposição como prova da falta de ideias no seio do Governo.
"De acordo com o que se passou aqui, onde o que tivemos foi a falta de respostas a situações preocupantes ao nível da ação governativa, este Governo falhou", afirmou António Muchanga, deputado da Renamo.
Por seu turno, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, qualificou como "sensata" a recusa do Governo em debater assuntos relacionados com a atividade das Forças de Defesa e Segurança (FDS) no combate aos insurgentes em Cabo Delgado, enfatizando que a estratégia de guerra não se discute em público.
"Infelizmente, há vozes que encaram o terrorismo com leviandade, esquecendo que Moçambique não é um único país em África a ser assolado pelo terrorismo", declarou Francisco Mucanheia, deputado da maioria.
No discurso final da sessão de perguntas ao executivo, o primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, apelou à "prudência" na exigência sobre a divulgação de aspetos relacionados com operações militares em Cabo Delgado, reiterando o argumento que já tinha avançando na quarta-feira de que o tema é "sensível".
"Como nos referimos na nossa intervenção ontem [quarta-feira], nesta magna casa do povo, questões de natureza militar como sejam estratégia, tática, logística e meios usados para o combate ao terrorismo são reservadas às Forças de Defesa e Segurança", declarou Rosário.
Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.
O mais recente ataque foi feito em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.
As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expetativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.
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