Moçambique. Partidos parlamentares exigem "escrutínio" do custo da guerra

Os partidos da oposição parlamentar moçambicana defenderam hoje "o escrutínio" do custo da guerra na província de Cabo Delgado, norte do país, acusando o Governo de "falhanço" e alertando para o risco de "enriquecimento ilícito das elites" com conflito.

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Lusa
22/04/2021 17:49 ‧ 22/04/2021 por Lusa

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Moçambique

 

A exigência foi feita durante o segundo e último dia da sessão de perguntas ao Governo na Assembleia da República.

"O setor da defesa e segurança deve ser escrutinado, porque em tempos de guerra, as elites usam este setor para o seu enriquecimento ilícito", afirmou o deputado Fernando Bismarque, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro partido parlamentar.

Insistindo na pergunta que o MDM já tinha feito na quarta-feira ao executivo sobre os custos da luta contra os "terroristas" e o recurso a "mercenários" em Cabo Delgado, Fernando Bismarque repudiou que o Governo faça "segredo" das despesas do conflito no norte do país.

"É o papel do Governo prestar contas à Assembleia da República. Não é nem deve ser nenhum segredo de Estado, porque é esta casa que aprovou o Orçamento do Estado e estamos no âmbito das nossas competências constitucionais e regimentais de fiscalização da ação governativa", afirmou aquele deputado do MDM.

Por seu turno, a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, considerou que o executivo falhou na ação governativa, apontando "a falta de respostas" às questões colocadas pela oposição como prova da falta de ideias no seio do Governo.

"De acordo com o que se passou aqui, onde o que tivemos foi a falta de respostas a situações preocupantes ao nível da ação governativa, este Governo falhou", afirmou António Muchanga, deputado da Renamo.

Por seu turno, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, qualificou como "sensata" a recusa do Governo em debater assuntos relacionados com a atividade das Forças de Defesa e Segurança (FDS) no combate aos insurgentes em Cabo Delgado, enfatizando que a estratégia de guerra não se discute em público.

"Infelizmente, há vozes que encaram o terrorismo com leviandade, esquecendo que Moçambique não é um único país em África a ser assolado pelo terrorismo", declarou Francisco Mucanheia, deputado da maioria.

No discurso final da sessão de perguntas ao executivo, o primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, apelou à "prudência" na exigência sobre a divulgação de aspetos relacionados com operações militares em Cabo Delgado, reiterando o argumento que já tinha avançando na quarta-feira de que o tema é "sensível".

"Como nos referimos na nossa intervenção ontem [quarta-feira], nesta magna casa do povo, questões de natureza militar como sejam estratégia, tática, logística e meios usados para o combate ao terrorismo são reservadas às Forças de Defesa e Segurança", declarou Rosário.

Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.

O mais recente ataque foi feito em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.

As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expetativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.

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