"Nos primeiros 90 dias de 2021 registámos 1.506 protestos, o equivalente a uma média de 17 por dia. Este valor representa uma redução de 24% em relação ao mesmo período do ano passado", explica o relatório "Conflituosidade social no primeiro trimestre de 2021, na Venezuela".
O documento afirma que "nem a covid-19, nem a repressão travam as exigências cidadãs" e que "a Venezuela cumpriu um ano" em "estado de alarme pela covid-19, aprofundando a emergência humanitária e aumentando as restrições complexas e crescentes às liberdades".
"É cada vez mais difícil manter as condições mínimas de vida em aspetos fundamentais como saúde, alimentação e habitação", explica.
Segundo o OVCS dos 1.506 protestos documentados, 1.144 foram por "direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, o que representa 76% do total de demandas registadas".
Os estados de Anzoátegui e Sucre (cada um com 130), foram os que registaram mais protestos, seguindo-se Táchira (120), Lara (111), Portuguesa (101) e Mérida (100), Miranda (97), o Distrito Capital (91), Bolívar (76) e Monágas (74).
O pagamento dos salários em dólares e não em bolívares (moeda local) "é a principal exigência dos trabalhadores" que reclamam "um salário para viver com dignidade".
"Repressão e a covid-19: foram reprimidos 23 protestos em 13 estados, com um balanço de 13 detidos, 6 feridos e 1 falecido (...) os trabalhadores da saúde reclamam um salário ajustado à atualidade. Os doentes e familiares exigem materiais (hospitalares) e equipamentos de biossegurança", explica o relatório.
Por outro lado, os professores, exigem condições seguras para regressar às aulas presenciais e denunciam ter sido ameaçados que seriam "substituídos por jovens" do programa governamental "Chamba Juvenil" por se negarem a retomar as aulas "até que as suas reclamações sejam atendidas".
Houve ainda protestos de trabalhadores reclamando dificuldades no acesso aos serviços de saúde, compra de medicamentos, alimentos e bens de primeira necessidade.
"O salário mínimo de 1 dólar mensal é insuficiente para pagar os serviços básicos que são cobrados em moeda estrangeira, de maneira excessiva", explica-se.
O setor do transporte marchou contra a falta de autocarros e reclamando as "longas jornadas para abastecer-se de combustível", enquanto os passageiros reclamaram aumentos dos preços, que algumas viagens são cobradas em dólares e falta de medidas preventivas da covid-19.
Produtores, comerciantes e trabalhadores reclamaram por "limitações nos horários, cobranças excessivas de impostos, extorsões e retenção de mercadorias".
Segundo o relatório houve queixas contra o acesso limitado a água potável e irregularidades na distribuição de gás. Também porque algumas regiões registam cortes elétricos prolongados e flutuações energéticas.
A recolha de lixo, problemas de esgotos, a deterioração de estradas, as falhas de telefonia móvel e fixa, internet e televisão por assinatura, o pagamento da gasolina em dólares e "a repressão e abuso de poder" dos militares, são motivos "que começam a ganhar terreno nas manifestações sociais".
Os venezuelanos exigem ainda "um plano de vacinação nacional contra a covid-19, para todos" e alertam que há "surtos" de sarampo, paludismo e salmonela, em várias regiões.
"Aumentam os protestos e denúncias contra os altos índices de insegurança, perigo de assalto, roubos e tentativas de invasão de casas e estabelecimentos", explica.
Os direitos humanos, o assassinato de mulheres, atrasos na distribuição de alimentos subsidiados pelo Estado e o aumento dos preços de produtos foram outros motivos que levaram os venezuelanos às ruas.
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