A Conferência Episcopal, que é o principal órgão governativo da Igreja católica de Espanha, disse que os bispos espanhóis submeteram 76 acusações contra padres e 144 contra membros de ordens religiosas específicas.
Os relatos foram enviados ao Vaticano, que está, desde 2001, a tentar quantificar os abusos sexuais a crianças por membros do clero de todos os países.
Os números da Igreja espanhola não incluem as queixas contra membros não clérigos da Igreja ou funcionários que trabalham em escolas administradas por ordens religiosas.
Além disso, os casos apresentados não são todos os que os bispos realmente receberam, mas apenas os que determinaram valer a pena relatar ao Vaticano, conforme exigido pela Santa Sé em 2001.
Segundo as autoridades, 151 dos 220 casos já foram encerrados e 69 permanecem abertos.
O porta-voz da Conferência Episcopal espanhola, Luis Arguello, lembrou hoje, em conferência de imprensa, que o problema dos abusos sexuais não é exclusivo da Igreja e que os padres envolvidos são uma fração dos 31 mil que trabalharam no país nos últimos 20 anos.
Arguello disse também que o Ministério Público de Espanha investigou, durante este período, cerca de 220.000 acusações de abusos infantis entre a população em geral.
No entanto, reconheceu que a Igreja mostrou, no passado, alguma relutância em resolver o problema.
"Achamos que, em certos momentos, andámos muito devagar ou desviámos mesmo o olhar para outra direção", reconheceu Arguello.
A divulgação dos casos aconteceu pouco tempo depois de a ministra dos Direitos Sociais, Ione Belarra, ter reagido à aprovação, pelo parlamento, de um projeto de lei para proteção das crianças, considerando a Igreja Católica como "cúmplice de violência sexual contra crianças".
O anúncio também acompanhou a publicação, pelo jornal El País, de dados independentes sobre abusos, que lista um total de 309 casos envolvendo 817 vítimas.
O El País avançou hoje que as informações dadas pelos bispos ao Vaticano constituem "um passo enorme no lento reconhecimento da dimensão dos abusos dentro da Igreja espanhola", mas criticou o facto de o número de casos não se basear nas queixas apresentadas diretamente nas dioceses, como os relatados nos gabinetes de atendimento às vítimas abertos no ano passado a pedido do Papa Francisco.
As investigações de alguns órgãos episcopais nacionais em toda a Europa trouxeram à luz milhares de casos de crianças e adolescentes abusados por membros da Igreja Católica.