Em comunicado, a Presidência avançou que numa conversa telefónica com o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, "os dois chefes de Estado abordaram a atual crise pós-eleitoral em Moçambique".
O Presidente cabo-verdiano sublinhou estar a "acompanhar com preocupação" a crise pós-eleitoral, tendo tomado nota dos resultados e do anúncio, feito pelo Conselho Constitucional moçambicano, da proclamação do novo Presidente eleito, Daniel Chapo.
José Maria Neves reforçou o apelo ao respeito pelas instituições, resultados eleitorais e ao "diálogo entre as partes, com serenidade e contenção de todas as forças políticas envolvidas no processo, visando a resolução dos diferendos ainda existentes".
Pelo menos 252 pessoas morreram nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique desde 21 de outubro, metade das quais apenas desde o anúncio dos resultados finais, na segunda-feira, segundo novo balanço feito na quinta-feira pela plataforma eleitoral Decide.
De acordo com o mais recente balanço daquela Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana que monitoriza os processos eleitorais, com dados até às 09:00 (menos duas horas em Lisboa) de quinta-feira, só desde 23 de dezembro já morreram nestas manifestações 125 pessoas, das quais 34 na província de Maputo e 18 na cidade capital, sul do país.
Há ainda registo de 26 mortos na província de Nampula (norte) e 33 em Sofala em menos de três dias.
Ainda desde segunda-feira, aquela ONG contabilizou 224 pessoas baleadas, das quais 59 na cidade de Maputo e 37 na província de Maputo, assim como 43 em Nampula e 65 em Sofala.
Desde 21 de outubro, o registo da plataforma eleitoral Decide contabiliza 569 pessoas baleadas em todo o país, além de 252 mortos e seis desaparecidos.
Somam-se ainda 4.175 detidos desde o início da contestação pós-eleitoral, 137 dos quais desde segunda-feira.
Moçambique viveu na quinta-feira o quarto dia de tensão social na sequência do anúncio dos resultados finais das eleições gerais, marcados nos anteriores por saques, vandalizações e barricadas, nomeadamente em Maputo.
O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou na segunda-feira Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, assim como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.
Este anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane - que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24% dos votos - nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.
Pelo menos 1.534 reclusos evadiram-se na tarde de quarta-feira da Cadeia Central de Maputo, de máxima segurança, disse o comandante-geral da polícia, afirmando tratar-se de uma ação "premeditada" e da responsabilidade de manifestantes pós-eleitorais em que morreram 33 pessoas.
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