A campanha eleitoral foi de novo assinalada por insultos, acusações de corrupção e incidentes violentos, num escrutínio acompanhado por diversos organismos internacionais e em período de crise política, com parte da oposição a boicotar o parlamento e num ambiente político em que geralmente predominam os excessos verbais.
A Comissão Eleitoral Central registou 45 partidos e três coligações para as legislativas, com a novidade do surgimento do Vetevendosje (Movimento Autodeterminação, VV), do primeiro-ministro do Kosovo Albin Kurti, que pela primeira vez apresenta candidatos com o estatuto de "independentes".
O surgimento do Vetevendosje na Albânia, muito popular entre a juventude, é revelador da disputa entre Rama e Kurti -- o atual homem forte do vizinho Kosovo, a ex-província sérvia de maioria albanesa que declarou a independência unilateral em 2008 -- pela liderança do mundo albanês dos Balcãs.
No passado verão, a maioria socialista no poder em Tirana alterou a lei eleitoral e fixou como barreira mínima para a eleição pelo menos 16.000 votos por círculo eleitoral, dificultando as perspetivas para as formações mais pequenas.
Em paralelo, para limitar as possibilidades de fraude e em conformidade com as expectativas ocidentais, a identidade dos eleitores será verificada, pela primeira vez, por meios eletrónicos.
A disputa eleitoral deverá de novo opor o Partido Socialista (PS, centro-esquerda) aos tradicionais rivais do Partido Democrático (PD, conservador). Ao contrário das últimas legislativas de 2017, as perspetivas são mais animadoras para esta força da oposição.
Com cerca de 2,8 milhões de habitantes, com superfície semelhante à do Alentejo, membro da NATO e aspirante à União Europeia (Bruxelas anunciou ao início das negociações de adesão mas sem fixar data), a Albânia permanece um dos países mais pobres da Europa: o salário médio ronda os 420 euros e confronta-se com uma emigração em massa, em particular entre os jovens com mais estudos, em direção a países como a Itália ou Alemanha.
Face aos elevados níveis de corrupção e impunidade, muitos colocam as esperanças nas novas instituições judiciais especializadas no combate aos abusos, em detrimento dos dirigentes políticos.
As sondagens indicam um resultado final muito incerto e quando a pandemia perturbou a campanha de rua, com os diversos partidos a apostarem nas redes sociais.
O PS de Rama, 56 anos e com vocação para a pintura, tem promovido uma "campanha permanente", iniciada antes da abertura oficial do período eleitoral, ao argumentar com a sua gestão de diversas crises, desde o covid-19 ao terramoto de novembro de 2019.
O primeiro-ministro exigiu tempo para concluir os projetos de infraestruturas bloqueados pela pandemia, e prosseguir a reconstrução dos milhares de edifícios destruídos pelo sismo.
Neste cenário, a retórica nacionalista voltou a ser utilizada para seduzir o eleitorado. "A Albânia vence" para o PD, "A Albânia o nosso futuro" para o PS. Por sua vez, o Movimento socialista para a integração (LSI, social-democrata e uma cisão do PS) do Presidente Ilir Meta, que surge na terceira posição, optou pela frase "A Albânia, a vossa casa".
Em março, o PD e o LSI concluíram um acordo para uma coligação pós-eleitoral, dependente dos resultados no escrutínio. Perante a ameaça dos principais rivais, o primeiro-ministro optou por um discurso mais agressivo, ao considerar que nenhum dos opositores possuiu a experiência necessária para dirigir a Albânia.
Para Edi Rama, acusado pelos críticos de dirigir o país com "mão de ferro", sobretudo após a segunda vitória do seu partido nas legislativas de 2017, um novo triunfo eleitoral apenas reforçará a sua liderança.
E nesse caso, significaria que seria a primeira maioria, desde a instauração do multipartidarismo no país há 30 anos, a manter-se mais tempo no poder.
Após assumir o cargo de primeiro-ministro em 2013, o antigo presidente da câmara municipal de Tirana prometeu reformar o sistema de saúde, lutar contra a corrupção, promover uma política fiscal mais justa e desenvolver modernas infraestruturas.
Pelo contrário, o líder do PD, Lulzim Basha, optou por não responder às contínuas acusações de Rama, optando por se apresentar como aglutinador e também tentar seduzir os eleitores indecisos, cerca de um quarto dos votantes segundo as sondagens.
Na fase final da campanha, e numa manobra de diversão, Edi Rama propôs a Basha a formação de um "governo de unidade nacional" para enfrentar as consequências sanitárias e económicas da pandemia.
No entanto, exigiu o fim do acordo entre os conservadores e Ilir Meta, e um distanciamento face do seu mentor e ex-Presidente Sali Berisha, fundador do PD e antigo rival de Rama.
A proposta acabou por ser rejeitada por Lulzim Basha, que mantém como objetivo prioritário afastar o PS e o seu sistema oligárquico do poder.
Esta iniciativa foi encarada como uma tentativa de ocultar o escândalo relacionado com os registos eletrónicos de cerca de um milhão de eleitores, obtidos pelo PS.
A menos de duas semanas da votação, este caso agravou o clima de campanha, a par da morte de um militante do PS abatido num tiroteio com apoiantes do PD, um incidente em torno de acusações de compra de votos.
Nos últimos dias, o PS colocou cartazes por todo o país acusando os principais rivais de "criminosos".
Após as violências que assinalaram as últimas eleições municipais de junho de 2019, boicotadas pela oposição, estas eleições são um novo teste para a Albânia e pelo menos 7.500 policias foram mobilizados e o exército colocado em estado de alerta.