"Desde criança que espero que o Presidente dos Estados Unidos reconheça o genocídio arménio", afirmou uma cidadã arménia, citada pela agência de notícias espanhola.
Mesmo com restrições em vigor, no âmbito do combate à pandemia causada pelo novo coronavírus, o povo arménio juntou-se em frente à embaixada dos Estados Unidos da América no país para agradecer o apoio diplomático que Joe Biden deu ao classificar como genocídio o "massacre" de mais de 1,5 milhões de arménios entre 1915 e 1923.
Os acontecimentos entre aquelas datas, que começam durante a Primeira Guerra Mundial e estendem-se depois do fim deste conflito, são ainda "uma ferida que arde" entre o povo arménio.
"O meu avô nasceu na Arménia Ocidental, uma região que sofreu muito durante o genocídio. Teve de fugir. Na nossa família, como na maioria dos lares arménios, preservamos essa memória e transmitimo-la de geração em geração", contou à Efe uma mulher arménia, frente à embaixada norte-americana.
A "grande diáspora arménia não esquece nem perdoa", até porque tem na génese a fuga aos massacres e, descreve a Efe, é por isso que em todos os países onde há presença arménia se continua a lutar pelo reconhecimento do genocídio.
O reconhecimento, e condenação, de Joe Biden do genocídio aconteceu no dia que a Arménia assinalou com a "tradicional celebração de recordação" o início da repressão da população arménia no Império Otomano, 24 de abril.
A propósito, aponta a Efe, o primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinian, enviou ao homónimo norte-americano um telegrama a agradecer aquilo que considerou ser "um poderoso passo no caminho do restabelecimento da verdade e da justiça histórica".
"Era algo de que estávamos à espera em Yerevan", disse hoje à Efe a porta-voz dos negócios estrangeiros, Anna Nagdalian.
Por todo o mundo, foram várias os arménios a agradecer a Joe Biden, salientando a Efe as declarações das irmãs Kardashian e do jogador de futebol cigano Henrikh Mkhitarian.
Além do simbolismo da data em que os EUA reconheceram o crime contra os arménios, ele acontece também numa altura em que o orgulho do país está ferido, depois da recente derrota para o Azerbaijão, aliado da Turquia, pelo controlo da região de Nagorno Karabakh, o que provocou um terramoto político no país.
"A guerra em Artsakh (Nagorno-Karabakh em arménio) lembrou-nos mais uma vez a tragédia de 1915. Só esta, a do ano passado, é uma tragédia que ocorreu noutra parte da nossa pátria histórica", explicou Nagdalian.
Não alheio ao "paralelismo histórico" apontado, está o facto do Governo de Ancara ter apoiado abertamente o Azerbaijão naquele conflito, no qual quase 5.000 soldados arménios foram mortos.
As relações entre a Turquia e o Azerbaijão já levaram com que Baku tivesse condenado o reconhecimento dos Estados Unidos do genocídio arménio, apelidando-o como "um erro histórico".
O primeiro Estado a apoiar a causa arménia foi o Uruguai, que deu o passo histórico em 1965. Desde então, 30 países reconheceram o genocídio arménio, incluindo a Rússia.
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