Na semana passada, o ex-braço direito de Boris Johnson, Dominic Cummings, lançou um violento ataque ao chefe do governo britânico, acusando-o de incompetência e questionando a sua integridade.
"É triste ver o primeiro-ministro e o seu Governo tão longe do nível de competência e integridade que o país merece", escreveu no seu blogue.
O antigo assessor cessou funções em meados de novembro, na sequência de uma alegada luta interna de influência junto do chefe do Executivo, com companheira de Johnson, Carrie Symonds, que terá bloqueado a nomeação de Lee Cain, aliado de Cummings, para diretor de comunicação.
Durante estes meses manteve-se discreto, tendo sido noticiado que fundou uma empresa de consultoria em tecnologias de informação, mas em março prestou depoimento numa comissão parlamentar, quando fez críticas à falta de preparação do Governo para gerir a pandemia de covid-19.
Mas a investida contra o primeiro-ministro foi uma retaliação às acusações, feitas de forma anónima a alguns jornais, de que teria sido Cummings o autor da divulgação de uma mensagem curta de texto (SMS, na sigla em Inglês) que revelou um acesso privilegiado do industrial James Dyson ao primeiro-ministro.
Na mesma entrada do seu blogue, Cummings acusou também Johnson de ter bloqueado um inquérito interno a uma fuga de informação porque os indícios apontavam para um assessor amigo da companheira do primeiro-ministro, Carrie Symonds.
Mencionou ainda a intenção de Boris Johnson de fazer trabalhos no seu apartamento através de financiadores privados e acrescentou que recusou ajudar a avançar com essa intenção e lhe ter dito que esta era "contrária à ética, estúpida, talvez ilegal".
Cummings disponibilizou-se para mostrar as mensagens que recebeu e disponibilizou-se para colaborar com um inquérito público, prometendo responder às perguntas que lhe forem feitas a 26 de maio, quando vai voltar ao Parlamento para uma nova audição.
Cummings é considerado o estratega da campanha no referendo em 2016 que determinou a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) e das eleições legislativas que deram a maioria absoluta ao Partido Conservador de Boris Johnson.
Tornou-se depois o assessor com mais poder dentro do Executivo, decidindo muitas vezes quem tinha acesso ao primeiro-ministro, marginalizando deputados e até outros membros do próprio governo.
O desdém pelas regras do protocolo era visível pela forma informal como se veste, chegando ao local de trabalho em Downing Street até usando calças de fato de treino, o que mereceu da revista masculina GQ o título do "homem mais mal vestido do mundo".
O primeiro-ministro arriscou a sua própria reputação ao manter Dominic Cummings em funções após ser conhecido que viajou de automóvel para Durham, a mais de 400 quilómetros de Londres, em março, contrariando a ordem do Governo para pessoas sintomáticas, no caso a mulher, ficarem em casa.
Os dois resistiram juntos a uma enorme pressão política e popular, mas agora encontram-se em lados opostos da barricada e Cummings parece disposto a derrubar o antigo chefe.
Nos últimos dias, vários meios de comunicação social relataram que o primeiro-ministro disse que preferia ver "corpos empilharem-se aos milhares" do que declarar um terceiro confinamento nacional, o que veio a acontecer em janeiro.
O jornal Daily Mail indicou que o Governo não devia antagonizar Cummings porque ele "tem coisas gravadas" e documentos e poderá sustentar muitas das suas afirmações.
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