"Nacionalismo tem prejudicado distribuição equitativa de vacinas"

O presidente do Comité da Cruz Vermelha Internacional, Peter Maurer, alertou em entrevista com a Lusa que "os governos estão a tentar proteger as suas populações" e que o "covid-nacionalismo, tem prejudicado uma distribuição mais equitativa de vacinas".

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Lusa
28/04/2021 09:36 ‧ 28/04/2021 por Lusa

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Covid-19

 

"Concordo com António [Guterres]. Porque é a primeira vez que nos confrontamos com uma pandemia com esta escala. Daí que, politicamente, o acesso mais equitativo aos medicamentos é de importância crítica", afirmou o chefe da organização humanitária com sede em Genebra.

"É importante fazer com que a vacinação contra a covid funcione, que as vacinas sejam canalisadas para os contextos frágeis, para regiões que não estão sobe a governação ou alcance dos ministérios da Saúde", acrescentou o presidente do CCVI.

Peter Maurer considerou "positivo" que a ciência tenha conseguido produzir "tantas vacinas em tão pouco tempo" e que estas estejam a "chegar ao mercado". "Tem sido um grande sucesso, tanto da comunidade internacional como da cooperação internacional", disse.

Não obstante, reconheceu que "é sempre delicado", no setor da saúde, conseguir-se alguma celeridade de processos, como no caso do alargamento da Covax -- iniciativa liderada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), Gavi e CEPI, destinada à distribuição de vacinas aos países de baixos rendimentos -- a vacinas como a russa, chinesas ou outras.

"No setor da saúde queremos sempre respeitar certos procedimentos e conseguir medicamentos que sejam seguros e sigam os protocolos de segurança", começou por sublinhar.

Por outro lado, acrescentou, "é evidente que o assunto covid tem sido fortemente politizado. É óbvio que a Covax continua a oferecer a melhor esperança possível, e essa iniciativa pode ser alargada e tornada mais significativa. Espero que outras vacinas sejam aceites pela Covax e usadas por forma a conseguirmos uma campanha de vacinação mais equitativa", deixou como voto.

Maurer disse que a covid apareceu "por cima de muitas outras coisas", e que apenas veio agravar uma situação já de si muito difícil em termos humanitários e de desenvolvimento.

"Uma das mais maiores preocupações das organizações humanitárias é que temos tido camadas de problemas por cima de camadas de problemas nos últimos 20 a 30 anos, sem que tenhamos resolvido adequadamente alguns deles", explicou.

A covid é apenas a "cereja em cima do bolo" da "iniquidade e pobreza de longo termo, da violência e conflito, da exacerbação dos conflito e da violência por efeito das alterações climáticas. Agora, no topo de tudo isto, vem a covid-19", sublinhou o presidente da CCVI.

Hoje, em todo o mundo, explicou Peter Maurer, "temos entre 20 e 25 contextos responsáveis por 80% de todas as deslocações irregulares de populações. E são sempre os mesmos 20 a 25 conflitos em todo o mundo que destabilizam a comunidade internacional", antes de deixar um apelo à comunidade internacional para que faça um "esforço para estabilizar as situações mais frágeis e vulneráveis", em vez de permitir que a ajuda humanitária vá "muitas vezes para locais onde não é absolutamente necessária, ou para onde não é bem dirigida".

"Nesse sentido, infelizmente, a covid não tem sido só um bom exemplo. Penso que conseguimos, no início da pandemia, levar material de proteção a muitos dos sítios mais frágeis. Mas quando olhamos para a campanha de vacinação hoje, menos de 2% do investimento em vacinas tem como destino os contextos mais frágeis. Temos que reequilibrar a balança", sublinhou.

Por outro lado, Maurer chamou a atenção para várias campanhas de vacinação que foram "cortadas por causa da covid" e deu exemplos: "A vacinação contra a poliomielite, malária, tuberculose, alguns dos programas vacinação regulares nos últimos anos, em que grandes quantidades de população foram vacinadas, foram deixados para trás porque a luta contra a covid consumiu todo o tempo, energia e recursos", afirmou.

"Penso que a comunidade internacional precisa de encontrar uma forma mais equitativa de abordar os assuntos sanitários. A saúde e a educação estão no centro da luta contra a fragilidade. Se não estabilizarmos as sociedades nos setores da saúde e da educação, é muito difícil avançarmos", considerou o chefe da Cruz Vermelha Internacional.

Para Peter Maurer, a comunidade internacional precisa de um acesso mais equitativo aos medicamentos, incluindo a vacinação contra a covid e a testagem, caso contrário, a pandemia irá "criar ainda mais complicações, em vez poder a ser a porta de entrada para a solução de problemas" humanitários, de desenvolvimento ou associados às alterações climáticas que o mundo hoje enfrenta.

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