Em videoconferência com jornalistas, a diretora da Organização das Mulheres Karen, Naw K'Nyaw Paw, referiu que pelo menos 100 pessoas fugiram para a Tailândia pelo rio Salween e que poderão fugir muitos mais para aquele país se os ataques aéreos continuarem em Myanmar (antiga Birmânia).
Segundo explicou, a força aérea birmanesa tem bombardeado a zona de selva controlada pelo Exército de Libertação Nacional Karen (KNLA, na sigla em inglês) onde se escondem milhares de deslocados birmaneses, causando o pânico entre os civis, incluindo crianças e idosos.
Nesta área do estado de Karin (no sudeste do país), encontram-se cerca de 45.000 pessoas deslocadas em vários campos, após décadas de conflito armado, que se intensificou desde o golpe de 1 de fevereiro.
Nesse dia, os militares tomaram o poder à força, contestando a vitória do partido de Aung Sang Suu Kyi nas eleições de novembro de 2020 e alegando irregularidades no processo eleitoral.
Desde então, milhares de pessoas têm-se manifestado contra o golpe militar, sobretudo na capital económica, Rangum, e em Mandalay, a segunda maior cidade do país.
Os bombardeamentos no estado de Karin começaram quando os guerrilheiros do KNLA ocuparam, na terça-feira, dois postos de fronteira em Oo Thoo Hta e Thaw Le Hta, localizados perto da província tailandesa de Mae Hong Son.
Os ataques continuaram na quarta-feira, com aviões a lançarem bombas e a dispararem contra civis, mas ainda se desconhecem números relativos a mortos ou feridos.
Em 27 de março, o KNLA apreendeu outro posto militar do exército birmanês, em Thi Mu Hta, e matou 10 soldados, incluindo um oficial, além de prender oito militares.
As Forças Armadas birmanesas responderam com ataques aéreos e terrestres contra bases e aldeias nas áreas controladas pela guerrilha Karen, matando 19 civis e ferindo outros 16.
Segundo o jornal local Delta News, hoje houve um ataque com explosivos contra uma base aérea de Magway, na região centro do país, sem que nenhum grupo tivesse assumido a responsabilidade.
Desde o golpe militar, o exército aumentou as hostilidades contra os guerrilheiros étnicos, ao mesmo tempo que suprimiu violentamente os protestos contra o golpe, matando pelo menos 756 civis, segundo a Associação de Assistência a Presos Políticos (AAPP).
Embora a maioria dos protestos seja pacífica, alguns manifestantes formaram milícias que organizaram ataques contra os militares ou se juntaram à guerrilha étnica que luta contra o exército birmanês.
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