Tudo dava a entender que a ida do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, à Casa Branca, na sexta-feira, poderia significar um bom avanço nas negociações pela paz na Ucrânia. O plano era o líder ucraniano aceitar assinar o acordo de exploração de minerais com os Estados Unidos, seguindo-se uma conferência de imprensa conjunta com Donald Trump. Mas nada correu como esperado.
O clima na Sala Oval foi de grande tensão e terminou a conferência de imprensa cancelada e com Zelensky a abandonar a Casa Branca.
O presidente norte-americano acusou Zelensky de "ingratidão" perante toda a ajuda que os Estados Unidos teriam já dado a Kyiv e afirmou que o ucraniano "está a brincar com a III Guerra Mundial". Também presente, o vice-presidente JD Vance, apontou igualmente o dedo a Zelensky, afirmando que este "desrespeita" os norte-americanos.
Perante os dois norte-americanos munidos de acusações, Zelensky recusou fazer concessões com "o assassino" Vladimir Putin e o encontro acabou com Trump a rejeitar conversações com o homólogo ucraniano até que Zelensky estivesse "pronto para a paz".
Já o ucraniano, logo após abandonar a Casa Branca, recorreu às redes sociais para agradecer aos Estados Unidos por todo o "apoio", mas a reforçar que a Ucrânia "precisa de uma paz justa e duradoura".
A reação da embaixadora ucraniana nos Estados Unidos, Oksana Markarova, ainda durante o encontro, refletiu a desilusão e tornou-se viral nas redes sociais. [Pode ainda ler na íntegra a troca entre os presidentes aqui].
"A Ucrânia pode sempre contar com Portugal"
Após o desastroso encontro, o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, recorreu à rede social X (ex-Twitter) para transmitir uma mensagem de apoio ao presidente ucraniano, sublinhando que "a Ucrânia poderá sempre contar com Portugal".
Um apoio do Governo português que foi reforçado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, que falou com o "amigo" Andrii Sybiha, o homólogo ucraniano, "para lhe dizer, de viva voz, que a Ucrânia e o povo ucraniano podem contar com Portugal".
Entre os partidos portugueses, também os líderes do PS, IL, BE, Livre e PAN reafirmaram o apoio à Ucrânia e condenaram Donald Trump.
Europa ao lado do "forte e corajoso" Zelensky
Ainda em solo português, onde esteve dois dias numa visita de Estado, o presidente francês, Emmanuel Macron, foi um dos primeiros líderes europeus a reagir, lembrando que a "Rússia é o agressor e o povo agredido é a Ucrânia". Pouco depois, numa entrevista transmitida pela RTP, o chefe de Estado francês voltou ao tema, recordando Trump que o único líder a "brincar com a III Guerra Mundial chama-se Vladimir Putin”.
Mensagem idêntica teve a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometendo trabalhar com o presidente da Ucrânia para uma "paz justa e duradoura" após a discussão pública em Washington e recomendando que Zelensky "seja forte, corajoso, destemido".
Em representação do Conselho Europeu, o presidente, António Costa, afirmou que Zelensky "nunca estará sozinho", com a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola a deixar a mesma garantia, bem como o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk.
O primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, disse apenas: "Ucrânia, Espanha está contigo", numa mensagem que repetiu em espanhol, inglês e ucraniano.
No mesmo sentido, a Alemanha, através da ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, declarou-se "unida ao lado da Ucrânia e contra a agressão russa", enquanto o ainda chanceler alemão, Olaf Scholz, lembrou que "ninguém quer mais a paz do que o povo da Ucrânia" e o líder conservador vencedor das últimas eleições, Friedrich Merz, declarou o "apoio" a Zelensky.
Os líderes dos países bálticos, Lituânia, Letónia e Estónia, reafirmaram que a "Ucrânia nunca caminhará sozinha".
Fora da Europa, o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, prometeu continuar a apoiar a Ucrânia para "uma paz justa e duradoura", recordando a luta pela "democracia, liberdade e soberania" perante o invasor russo.
Em Itália, Giorgia Meloni, uma das poucas líderes europeias que Donald Trump tem elogiado publicamente, sugeriu uma cimeira urgente entre Estados Unidos, países europeus e aliados sobre desafios comuns como a Ucrânia, para evitar "divisões que enfraquecem o Ocidente".
Já o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, falou tanto com Trump como com Zelensky após a reunião na Sala Oval e garantiu a Kyiv um "apoio inabalável".
O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, disse hoje que o país "apoiará a Ucrânia" durante o tempo que for necessário porque "porque esta é a luta de uma nação democrática contra um regime autoritário".
"O povo ucraniano não está apenas a lutar pela sua soberania nacional, mas também para afirmar o respeito pelo direito internacional", disse o chefe do Governo australiano, aos jornalistas, em Sydney (sudeste).
Em contraciclo, Hungria defende Trump e Rússia insulta Zelensky: "Palhaço"
Ainda na Europa, contrariando a tendência da maioria dos líderes europeus, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, defendeu que Donald Trump lutou "bravamente pela paz".
Já do lado russo, o enviado especial nas conversações russo-americanas, Kirill Dmitriev, e o ex-presidente Dmitri Medvedev saudaram o confronto "histórico" e insultaram Zelensky, chamando-lhe "porco insolente" e "palhaço da cocaína".
Em representação do Kremlin, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo realçou que o presidente norte-americano e o vice-presidente mostraram contenção ao lidar com "o canalha" Volodymyr Zelensky, com a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, acusar o ucraniano de ser "desagradável com todos".
Trump pondera suspender apoio militar
Após a altercação registada na Casa Branca com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, o Governo norte-americano liderado por Donald Trump está a considerar suspender o envio de equipamento militar para a Ucrânia, noticiou na sexta-feira o jornal Washington Post.
De acordo com o Post, que cita uma alta autoridade norte-americana, o governo está a considerar "suspender todos os envios em curso" para a Ucrânia devido à intransigência de Zelensky em relação ao processo de paz com a Rússia.
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