"Com relação à vacina do Instituto Gamaleya, que é chamada Sputnik V, o processo ainda está em andamento junto à OMS. A empresa entrou com um pedido de listagem de uso emergencial em 09 de fevereiro", disse Mariângela Simão.
A diretora geral assistente da OMS explicou que o processo de análise da vacina russa ainda está em aberto na organização, ao ser questionada sobre a posição da organização após o imunizante não ter sido aprovado para uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão regulador do Brasil.
"O Instituto Gamaleya ainda está em fase de fornecimento de dados para o dossiê da OMS, mas a OMS já teve uma equipa junto com a Agência Europeia do Medicamento fazendo inspeções na Rússia, agora no mês de abril, para [averiguar] boas práticas clínicas e, a partir de 10 de maio, por três semanas, vai estar inspecionando quatro locais de produção da Sputnik V, na Rússia", acrescentou.
A dirigente da OMS informou que o órgão espera, se tiver acesso às informações e as inspeções concluídas na Rússia, concluir "a análise do processo integral do Instituto Gamaleya durante o mês de julho".
O ministro da Saúde do Brasil, Marcelo Queiroga, que participou na conferência realizada a partir de Genebra, a convite da OMS, disse que o Governo apoia a Anvisa, frisando que a agência brasileira tem autonomia para tomar decisões sobre a autorização, ou não, do uso de vacinas no país.
"Os diretores [da Anvisa] são técnicos e têm a capacidade de resistir a essas pressões políticas que são normais dentro de um país democrático e, sobretudo, num ambiente de pandemia como este que infelicita a vida da nossa sociedade", afirmou Queiroga.
O ministro acrescentou que o Governo brasileiro, liderado pelo Presidente Jair Bolsonaro, fez uma conferência com o Presidente russo, Vladimir Putin.
"O Brasil integra um bloco económico com a Rússia, com a China, são nações amigas e assim que a Anvisa aprovar a vacina [Sputnik V] será incorporada ao Programam Nacional de Imunização sem nenhum problema", assegurou.
Na quinta-feira, a agência reguladora brasileira refutou acusações dos criadores da Sputnik V sobre interferência política no processo de autorização da vacina e divulgou diálogos sobre a alegada presença de adenovírus replicante no imunizante.
Horas antes, o Instituto Gamaleya e o Fundo de Investimento Direto da Rússia, responsáveis pela Sputnik V, tinham acusado a Anvisa de "declarações incorretas e enganosas sem ter testado a vacina" e de ter ignorado um ofício em que era informado que não havia vírus replicantes no antídoto, ameaçando processar o órgão brasileiro por difamação.
O diretor da Anvisa, Antônio Barra Torres, reafirmou na quinta-feira que foi identificada a presença de vírus replicante na Sputnik V e que enviou a análise à OMS e a outras autoridades regulatórias estrangeiras.
"A Anvisa foi acusada de mentir, de atuar de maneira antiética e de produzir 'fake news' sobre a identificação do adenovírus replicante. A direção da Anvisa, atendendo estritamente ao interesse público sobre vacinas da covid-19, esclarece que as informações sobre a presença de adenovírus replicantes constam dos documentos entregues à Anvisa pelo desenvolvedor da vacina Sputnik V", frisou Barra Torres.
A Anvisa expôs, de forma inédita, partes de reuniões anteriores com as entidades russas, em que os técnicos brasileiros questionam várias vezes os criadores da vacina sobre a presença de adenovírus replicantes no imunizante.
No diálogo divulgado, os fabricantes da vacina russa admitem a possibilidade de terem usado "uma linha de células caracterizada, o que pode ter os seus defeitos".
Contudo, os especialistas russos afirmam que não modificarão o antídoto, uma vez que "uma nova substância" demoraria "mais" tempo. Os comentários originais foram feitos em russo e traduzidos por um profissional contratado para o efeito.
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo ao contabilizar 401.186 vítimas mortais e mais de 14,5 milhões de casos confirmados de covid-19.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.168.333 mortos no mundo, resultantes de mais de 150,4 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
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