Argélia: 300 personalidades apelam contra "criminalização" do 'Hirak'
Cerca de 300 personalidades, militantes e ONG emitiram hoje um apelo através de uma declaração divulgada por 'sites' próximos do movimento de protesto do 'Hirak' para que termine a "guerra declarada contra o povo argelino" pelo regime.
© Getty Images
Mundo Argélia
Esta declaração denuncia a "ofensiva securitária e judicial" do poder que "está em vias de assumir a forma de uma guerra aberta contra o povo argelino".
Os signatários exigem a libertação dos presos políticos, o fim dos processos judiciais contra os opositores e militantes do 'Hirak', e o restabelecimento das "liberdades constitucionais".
"A tortura voltou a banalizar-se. As violências policiais generalizam-se. Nada pode justificar que um Governo trate os cidadãos do seu país com semelhante brutalidade", acusam.
Entre os apoiantes do apelo incluem-se organizações não governamentais (ONG) como a Liga Argelina de Defesa dos Direitos Humanos (LADDH) e o Coletivo Argelino Contra a Tortura e as Condições nas Prisões (CACTCCI), partidos políticos, universitários, jornalistas, representantes do mundo associativo, intelectuais, cidadãos e membros da diáspora.
A petição, que "nasceu pela urgência" e intitulada "Fim à guerra declarada contra o povo argelino", interpela a "opinião nacional e internacional" sobre as consequências "funestas" que poderá motivar a "escalada da repressão desencadeada no mês de abril".
O texto alerta contra a "criminalização do 'Hirak'", que se "arrisca a evoluir para uma acusação de crimes de Estado".
Segundo as organizações de defesa dos direitos humanos, e com a aproximação das eleições legislativas convocadas para junho próximo, a repressão aumentou na Argélia.
Na sexta-feira, a polícia dispersou sem hesitações a marcha semanal do 'Hirak' em Argel, e efetuou numerosas detenções.
O regime parece determinado em prosseguir o seu "roteiro" eleitoral sem atender às reivindicações da rua -- Estado de direito, transição democrática, justiça independente --, e da não participação das principais forças da oposição.
Na sua mensagem do 1.º de Maio, o Presidente Abdelmadjid Tebboune referiu-se a "um desafio vital que fará erguer o povo argelino num clima de tranquilidade e de confiança no futuro".
Segundo o Comité Nacional para a Libertação dos Detidos (CNLD), mais de 70 pessoas estão atualmente detidas, na maioria indiciadas por ações relacionadas com o 'Hirak' ou com a defesa das liberdades individuais.
Este movimento de contestação de massas, inédito e sem uma direção política visível, surgiu em fevereiro de 2019 para contestar o quinto mandato do ex-presidente Abdelaziz Bouteflika, que resignou ao cargo dois meses depois.
O movimento exige também uma alteração radical do sistema instalado no país na sequência da independência em 1962, com largo predomínio da hierarquia militar, acusada de ter renunciado aos valores originais da revolução argelina e sinónimo de autoritarismo e corrupção.
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