Moçambique: Portugal "confortado" com disponibilidade de diversos países

O ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, afirmou-se "confortado" com a disponibilidade manifestada hoje em Bruxelas por "diversos países" para integrar uma missão de formação da União Europeia (UE) para ajudar Moçambique a enfrentar a situação em Cabo Delgado.

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Lusa
06/05/2021 18:02 ‧ 06/05/2021 por Lusa

Mundo

João Gomes Cravinho

Numa conferência de imprensa após uma reunião de ministros da Defesa da UE, que teve Moçambique entre os principais pontos em discussão, Gomes Cravinho confirmou que Portugal pode contribuir com militares "até 50% da missão da UE", tal como indicara pouco antes o Alto Representante para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, e saudou a disponibilidade de outros Estados-membros para se juntarem, bem como o consenso político em torno da necessidade da missão.

"Houve efetivamente uma boa discussão sobre Moçambique, com numerosos ministros a fazerem referência àquilo que se passa no norte de Moçambique, e associando a experiências vividas em outras partes do continente africano. Houve um consenso político quanto à desejabilidade de se enviar uma missão de formação da União Europeia para Moçambique, correspondendo àquilo que foi o pedido feito por parte da ministra dos Negócios Estrangeiros de Moçambique, Verónica Macamo, no final do ano passado", disse Gomes Cravinho.

Considerando que este consenso é "muito importante do ponto de vista político", o ministro adiantou que, ainda este mês, "daqui por umas duas semanas, irá uma missão técnica a Moçambique para verificar os parâmetros para a entrada em funções de uma missão da UE, e diversos países manifestaram a sua disponibilidade para apoiar com forças militares".

"Do nosso lado, assumimos esse compromisso -- dependerá claro, da disponibilidade de outros países -, mas do nosso lado poderemos ir até 50% da missão da UE com militares portugueses", afirmou então.

Questionado sobre quais os Estados-membros que manifestaram abertura para integrar a missão, João Gomes Cravinho disse preferir que sejam "os próprios, naturalmente, a manifestar a sua disponibilidade em público", pois "há um certo grau de confidencialidade" e "é possível que, em alguns casos, ainda tenham tramitações internas que tenham de ser cumpridas, e, portanto, gostaria que fossem os próprios a anunciar".

"O que eu posso dizer é que fiquei confortado por saber que há claramente [contributos] suficientes para estarmos confiantes quanto à possibilidade de montar uma missão da UE", acrescentou.

João Gomes Cravinho precisou que "o que está a ser pensado não é uma missão executiva", ou seja, "não é uma missão que assume funções soberanas, é uma missão não executiva dedicada essencialmente à formação de forças especiais moçambicanas".

"Nesse sentido, não vai estar situada na zona onde há conflitos, estará em outras partes de Moçambique, provavelmente em duas partes distintas, que são regiões onde as preocupações de segurança não são particularmente intensas", apontou.

Pouco antes da vídeoconferência de imprensa de Gomes Cravinho, o chefe da diplomacia europeia, na conferência de imprensa 'formal' da reunião -- à qual presidiu dado ser um Conselho de Negócios Estrangeiros, na vertente Defesa -, disse esperar que a missão de apoio a Moçambique seja lançada "tão rapidamente quanto possível", pois a situação em Cabo Delgado exige da UE um sentido de urgência que admitiu nem sempre existir.

Josep Borrell lembrou que Portugal "já ofereceu metade do pessoal" para a missão europeia, acrescentando que, "na verdade, já enviou instrutores militares" que se encontram já no terreno, mas salientou que "esta missão portuguesa deve ser considerada como um adiantamento" e tem de ser "complementada" por outros Estados-membros.

"A vontade política está lá e, com um forte contributo de Portugal, espero que os outros Estados-membros possam complementar" a missão, disse o responsável espanhol, revelando que deu instruções aos seus serviços para "acelerar o trabalho" com vista ao envio de uma missão de apoio à formação militar, tal como solicitado pelas autoridades moçambicanas.

"Dei instruções aos serviços para acelerar o trabalho, porque temos de responder ao pedido de Moçambique com um certo sentido de urgência que nem sempre temos", apontou.

Prosseguindo este raciocínio, Borrell, referindo-se ao outro grande tema da reunião de hoje, a chamada 'Bússola Estratégica' da UE, adiantou que, no contexto dessa discussão, defendeu que "a UE precisa de ser mais eficaz e tomar decisões mais depressa".

"Temos de reagir mais rapidamente, temos de tomar decisões mais depressa. E discutimos designadamente como lançar missões e operações da UE mais rapidamente", afirmou, acrescentando que a situação de Moçambique é mais uma demonstração dessa necessidade.

Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.

O mais recente ataque ocorreu em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.

As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.

Leia Também: Gomes Cravinho chamado à AR para esclarecimentos sobre Polícia Marítima

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