Há poucas semanas, a principal luta nos hospitais na Faixa de Gaza era a Covid-19, uma luta transversal a qualquer país (com mais ou com menos recursos). Com um sistema de saúde débil, em plena segunda vaga da pandemia, as unidades hospitalares viram-se forçadas a libertar blocos operatórios, a suspender consultas, e a canalizar recursos para combater o novo coronavírus.
Agora, a realidade mudou drasticamente por força dos ataques de Israel: feridas dos estilhaços, cortes e amputações, descreve a Associated Press.
Pelo menos 119 pessoas já morreram, incluindo 31 menores, desde o início da escalada militar entre Israel e grupos palestinianos na segunda-feira. Durante a noite de hoje, uma mulher e os seus três filhos foram mortos durante a operação israelita e os seus corpos recuperados dos escombros de casa.
Em choque, os familiares das vítimas não esperam por ambulâncias e levam-nas de carro ou mesmo a pé para o Hospital Shifa, o maior da Faixa de Gaza, relata a AP. Os médicos, exaustos, correm de doente em doente, tentando estancar-lhes as feridas. Outros esperam que lhes sejam devolvidos os corpos dos que não resistiram.
Na cidade de Jabaliya, o Hospital da Indonésia ficou num caos depois de terem caído bombas nas proximidades. O cenário é de guerra. Há sangue por todo o lado, feridos deitados no chão dos corredores. "Antes dos ataques militares, tínhamos uma grande escassez e mal conseguíamos lidar com a segunda onda [da Covid-19]", afirma Abdelatif al-Hajj, funcionário do Ministério da Saúde de Gaza, por telefone, enquanto se ouviam os ataques ao fundo.
"Agora as vítimas estão a vir de todas as direções, vítimas realmente críticas. Temo um colapso total"
O exército disse hoje que maior operação israelita em Gaza, desde o início da escalada da guerra, consistiu em 50 rondas de bombardeamentos por terra e ar em 40 minutos.
Um porta-voz militar afirmou que Israel utilizou esta manhã 160 aviões, artilharia e infantaria durante o ataque ao enclave palestiniano.
Ao mesmo tempo, as milícias palestinianas dispararam 50 foguetes contra Israel durante a madrugada.
O conflito israelo-palestiniano já dura há quatro dias e tem-se assistido a sucessivas escaladas de violência, com o disparo de centenas de foguetes por parte do Hamas e a resposta de Israel com fortes bombardeamentos.
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