Num depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga as ações do Governo na pandemia de covid-19, Ernesto Araújo, que foi ministro das Relações Exteriores de janeiro de 2019 até março passado, negou haver problemas nas relações diplomáticas do Brasil com a China.
"Não entendo nenhuma declaração que eu tenha feito como antichinesa. Em notas oficiais, nos queixamos do comportamento da embaixada da China, mas não houve nenhuma declaração que se possa classificar como antichinesa. Logo, não há nenhum impacto de algo que não existiu", afirmou Araújo.
Noutro momento, porém, o ex-ministro brasileiro admitiu que enviou pessoalmente uma carta ao Governo chinês reclamando de publicações feitas pelo embaixador do país asiático no Brasil, Yang Wanming, no ano passado.
Em abril de 2020, Araújo publicou um texto em seu blogue pessoal no qual afirmava, entre outras coisas, que a pandemia de covid-19 fazia parte de um "projeto globalista" que seria o "novo caminho do comunismo".
O antigo ministro brasileiro chegou a usar a palavra 'comunavírus' e também criticava a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Araújo foi chamado de 'mentiroso' por senadores da CPI que lembraram algumas declarações polémicas sobre a China e afirmaram que palavras preconceituosas suas e de outros membros do Governo brasileiro atrasaram o envio de consumíveis para fabrico de vacinas no país sul-americano.
Atualmente o Brasil recebe da China os ingredientes para fabricar a CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório Sinovac, e o imunizante criado pela AstraZeneca e a Universidade de Oxford.
O senador Osmar Aziz, presidente da CPI da covid-19 no Senado, disse que Araújo estava faltando à verdade.
"Se vossa excelência acha que isso não é se indispor com um país, eu não entendo mais como se faz relações internacionais. Desmerecer o que já indicou e dizer que o senhor nunca se indispôs com a China, o senhor está faltando com a verdade", afirmou Aziz.
O ex-ministro das Relações Exteriores também alegou que o texto publicado no seu blogue que citava o termo 'comunavírus' se tratava de uma resposta a um filósofo esloveno e não uma crítica endereçada à China.
Araújo negou ainda que uma nota que emitiu pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil em defesa de um dos filhos do Presidente, Jair Bolsonaro, tenha causado problemas na relação bilateral com o país asiático.
Em duas ocasiões Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do Presidente brasileiro, associou a pandemia à China insinuando que o país asiático escondeu informações sobre o vírus e estaria beneficiando economicamente da crise sanitária.
Numa destas crises o embaixador chinês disse que Eduardo Bolsonaro tinha um 'vírus mental' o que gerou a nota e uma resposta dura do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
O Governo brasileiro chegou a pedir a Pequim que substituísse seu embaixador no país em duas oportunidades, mas não foi atendido.
Indagado inúmeras vezes sobre as relações com China, que além de fornecedor de consumíveis é o maior parceiro comercial do Brasil, Araújo afirmou não ver "hostilidade [do Brasil] com a China".
"Nosso comércio com a China aumentou durante esse Governo. [...] Não se pode ver no comércio nenhum indício da piora da relação", acrescentou.
O antigo ministro brasileiro também disse não ter sido responsável pelo contrato de adesão que comprou vacinas para 10% da população do Brasil no consórcio Covax da Organização Mundial de Saúde (OMS), que é responsável pela distribuição de milhões de imunizantes a nível global.
O Brasil aderiu à iniciativa da OMS em setembro do ano passado, mas comprou vacinas apenas para 10% de sua população quando poderia adquirir 40% dos imunizantes necessários para imunizar os brasileiros.
Com 212 milhões de habitantes, o Brasil totaliza 436.537 óbitos e 15.657.391 infeções desde o início da pandemia no país, cujo primeiro caso foi detetado em São Paulo, em fevereiro do ano passado.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.391.849 mortos no mundo, resultantes de mais de 163,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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