Foi um protesto que contou com a presença do próprio ministro do Interior, Geráld Damanin.
"Tornámo-nos, ao longo dos anos, carne para canhão e temos quase a impressão que como polícias sofremos toda a revolta contra os sucessivos governos. E, para além disso, não há consequências penais para quem nos ataca", afirmou à agência Lusa Gilles Debove, polícia na região de Calais.
Como ele, mais de 35 mil polícias estiveram hoje à tarde em frente à Assembleia Nacional, em Paris, para pedir ao ministro da Justiça, Éric Dupont-Moretti, que agrave as penas para quem agrida um polícia e que as torne imutáveis, fazendo assim com que os criminosos tenham penas efetivas sempre que ataquem agentes da autoridade.
A manifestação contou com a estreia de um ministro do Interior num protesto de polícias, algo nunca visto na V República, mas também com a presença da presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo, ou Jordan Bardella, vice-presidente do Rassemblement National, partido de extrema-direita e liderado por Marine Le Pen.
Estas presenças foram vistas por alguns polícias e sindicatos como uma apropriação do seu momento de protesto.
"A nossa manifestação não é política, trabalhamos para qualquer Governo, porque somos polícias da República. Este é o grito de raiva dos polícias", disse Bruno Cossin, secretário nacional da União Nacional dos Sindicatos Autónomos - Polícia para a província e regiões ultramarinas.
Entre 2009 e 2019, as agressões contra os polícias aumentaram em 40%, ultrapassando agora mais de 37 mil casos por ano. Bruno Cossin recorda que nos seus 30 anos de carreira se tornaram comuns as agressões quotidianas nas esquadras onde trabalhou.
Também Gaelle James, secretária nacional da Synergie Officiers, sindicato dos oficiais mais graduados, que fez parte da sua carreira no distrito 93, um dos mais complexos a nível da criminalidade em França, descreve a violência no dia-a-dia.
"Há certos bairros onde os polícias não podem entrar só com um carro e quatro colegas, é preciso de preparar uma operação complexa porque sabemos que vai degenerar em violência e isso não é normal", explicou.
Casos como o de Stéphanie, 49 anos, mãe de dois filhos e assassinada por estar de uniforme enquanto renovava o bilhete de estacionamento ou de Eric, morto durante uma operação de combate ao tráfico de droga em Avignon, vieram agravar o descontentamento da polícia no país.
Enquanto os milhares de polícias se manifestavam, no interior da Assembleia Nacional, o ministro Dupond-Moretti falava aos deputados e pediu que não se opusesse mais a polícia à justiça. A polícia chama-lhe agora "o ministro dos prisioneiros".
Querendo mudar a situação por dentro, Gilles Debove candidatou-se às eleições municipais da sua cidade, Nordausques, no norte de França, em 2020 e ganhou. Assim, esta tarde junto ao Parlamento francês no braço esquerdo tem a braçadeira laranja de polícia e à volta do tronco, a faixa tricolor, vermelho, branco e azul, que revela um eleito francês.
"Falta que de um lado as pessoas contem o que se passa verdadeiramente aos seus eleitos, mas também que os eleitos tenham a sensibilidade de perceber o que se passa na vida dos seus concidadãos e na vida dos polícias", concluiu.
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