O pai do jornalista Roman Protasevich, que foi detido pelas autoridades bielorrussas no domingo depois de forçado o desvio do avião da Ryanair em que seguia, alegando uma falsa ameaça terrorista, acredita que o filho poderá ser vítima de agressão ou tortura.
"Esperamos que ele consiga lidar. Temos medo de sequer pensar nisso, mas é possível que ele seja agredido ou torturado. Temos muito medo disso", indicou Dmitri Protasevich à BBC na segunda-feira, altura em que as autoridades bielorrussas divulgaram um vídeo do jornalista a admitir ter cometido crime.
Já em declarações à AFP, o pai indicou que o filho estava "muito nervoso" e que "falava de uma forma pouco usual dele". "É claro que ele foi fisicamente maltratado porque se vê sinais de agressão na cara dele", declarou, sublinhando, inclusive, que parecem faltar-lhe dentes.
O progenitor acredita que Roman foi coagido a ler aquele comunicado, onde dizia estar a ser bem tratado e não ter quaisquer problemas de saúde. "Ainda não sabemos onde ele está, nem em que condições, nem como se sente", disse o pai.
"É provável que seu nariz tenha sido fraturado, porque o seu formato mudou e está maquilhado. Toda a parte esquerda da sua cara está maquilhada", afirmou, ainda, à Reuters.
As predicted by @RyhorAstapenia in my article today (see below), arrested journalist Roman Prostasevich has already been rolled out in confession video. He says no problems with health, good treatment — but it's clear he’s not in a position to say otherwise. https://t.co/9L6R3Kh5A4 pic.twitter.com/gajDdKnPmg
— Oliver Carroll (@olliecarroll) May 24, 2021
"Estamos muito chocados e muito transtornados. Este tipo de coisa não devia estar a acontecer no século XXI, no coração da Europa", acrescentou o progenitor. "Esperamos que toda a comunidade internacional, incluindo a União Europeia, apliquem pressão sem precedentes às autoridades. Esperemos que a pressão funcione e que as autoridades se apercebam que cometeram um grande erro".
Ontem, os 27 membros do Conselho Europeu decidiram solicitar às companhia europeias para evitar o espaço aéreo bielorrusso, enquanto banem as transportadoras da Bielorrússia na Europa, exigindo ainda mais sanções contra o regime de Lukashenko.
Recorde-se que Roman Protasevich, no final de 2019, teve de sair do país e pedir asilo político, o que fez na Polónia, de onde se mudou para Vilnius. Há oito meses, os seus pais, receosos de sofrerem represálias pelas atividades políticas do seu filho, também saíram da Bielorrússia.
O jornalista e 'blogger' Roman Protasevich, de 26 anos, é um opositor do regime da Bielorrússia, presidido por Alexandr Lukashenko, desde os seus tempos de adolescente.
O delito da mais recente vítima de Lukashenko foi ter sido diretor dos canais Telegram Nexta e Nexta Live, que foram decisivos na organização dos protestos contra o dirigente do regime de Minsk depois das eleições presidenciais fraudulentas de agosto de 2020 e para a denúncia da repressão violenta das manifestações pacíficas.
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