Presidente do Brasil atrasou negociação de vacina chinesa em três meses

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse hoje que as negociações para a aquisição da vacina CoronaVAc, contra a covid-19, ficaram paradas no Brasil durante três meses, após o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, ter declarado que não a compraria.

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Lusa
27/05/2021 19:55 ‧ 27/05/2021 por Lusa

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Covid-19

 

Segundo o depoimento de Covas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado brasileiro, que investiga as ações do Governo brasileiro na pandemia de covid-19, no dia 7 de outubro de 2020 o Instituto Butantan fez uma oferta de 100 milhões de doses da CoronaVac ao Ministério da Saúde do Brasil.

"Houve uma sinalização de que poderíamos evoluir, inclusive com a produção de uma medida provisória (...) Tudo estava indo muito bem. Tanto que em 20 de outubro, fui convidado pelo [ex] ministro [da Saúde brasileiro, Eduardo] Pazuello para uma cerimónia na qual a vacina seria anunciada", disse Covas.

"No outro dia de manhã, quando ainda haveria conversas adicionais, essas conversas adicionais não aconteceram porque o Presidente Jair Bolsonaro disse que não haveria continuação nesse processo", acrescentou.

O Butantan firmou uma parceria com o laboratório chinês Sinovac, que desenvolveu a CoronaVac, no primeiro semestre do ano passado para testar e produzir o medicamento no Brasil e, portanto, é responsável pelo contrato de venda do medicamento junto ao Governo brasileiro.

Os testes e a aplicação desta vacina, porém, desencadearam várias polémicas porque Bolsonaro atacou o medicamento publicamente em mais que uma oportunidade e disse que não compraria a 'vacina chinesa' patrocinada pelo governador de São Paulo e seu rival político, João Dória.

Ao ser questionado novamente pelos senadores sobre a alegada paralisação das negociações entre o Governo brasileiro e o Instituto Butantan para a aquisição da CoronaVac, que é responsável por 65% das imunizações realizadas no país, Covas reafirmou que não houve mais progresso nas conversações até janeiro, quando um contrato foi finalmente assinado.

A declaração colocou em causa parte do depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que afirmou aos senadores da CPI, na semana passada, que as declarações de Bolsonaro eram "falas de internet" e afirmou que ele e os técnicos do Ministério da Saúde continuaram a negociar com o Instituto Butantan.

A alegada recusa de comprar doses da CoronaVac tornou-se um episódio polémico na gestão da pandemia no Brasil porque Pazuelo gravou um vídeo ao lado de Bolsonaro no qual o ex-ministro da Saúde justificou a sua mudança de posição sobre este medicamento dizendo: "É simples assim. Um manda e o outro obedece".

No seu depoimento à CPI da covid-19, Covas afirmou que não houve investimento direto do Ministério da Saúde no desenvolvimento da CoronaVac.

O diretor do Butantan também considerou que declarações ofensivas de membros do Governo brasileiro podem estar a causar atrasos recorrentes no envio de consumíveis exportados pela China para fabrico da CoronaVac e de outras vacinas no Brasil.

Questionado sobre a aplicação de uma terceira dose da CoronaVac para garantir a imunização, o especialista considerou que pode ser necessária não só para a CoronaVac como para outros imunizantes usados contra a covid-19.

"Isso será necessário neste momento para todas as vacinas, não só em relação à própria duração da imunidade, na minha opinião, é claro, como também em relação às variantes", concluiu o diretor do Butantan.

O Brasil totaliza 454.429 óbitos e 16.274.695 infeções pelo novo coronavírus desde que a pandemia chegou ao país, há 15 meses.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.500.321 mortos no mundo, resultantes de mais de 168,3 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Leia Também: Covid-19: Brasil recebe mais 629.400 doses da vacina da Pfizer

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