Afeganistão. Talibãs pedem aos intérpretes afegãos para ficar no país
O movimento talibã pediu hoje aos intérpretes afegãos das forças internacionais que se "arrependam", mas permaneçam no Afeganistão, após a partida das tropas ocidentais, que estão a acelerar a sua retirada.
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Mundo Afeganistão
Num comunicado, os rebeldes talibãs garantem que esses afegãos "não correrão nenhum perigo" e defenderam que "ninguém deve abandonar o país".
"Um número significativo de afegãos perdeu-se nos últimos 20 anos de ocupação e trabalhou com forças estrangeiras, como intérpretes, guardas ou outras funções. Agora, que as forças estrangeiras se retiram, estão com medo e procuram abandonar o país", explicam os talibãs.
"O Emirado Islâmico quer dizer-lhes que devem expressar remorso pelas suas ações passadas e não mais se envolverem em tais atividades, o que equivale a uma traição contra o Islão e contra o seu país", acrescentam os talibãs.
"O Emirado Islâmico não os colocará em apuros. Convida-os a voltar a uma vida normal e a servir o seu país. Nós víamo-los como nossos inimigos, mas assim que eles deixarem as fileiras inimigas, tornar-se-ão afegãos comuns, de novo na sua terra natal e não devem ter medo", concluem os talibãs, em comunicado hoje divulgado.
Com a retirada acelerada das tropas da NATO, milhares de tradutores e intérpretes de embaixadas e forças militares ocidentais estão a migrar para os consulados, na esperança de obter um visto de imigração, com medo de represálias se os talibãs regressarem ao poder em Cabul.
"Não acredito neste apelo. Os talibãs não mudaram", disse Mohammad Shoaib Walizada, 31 anos, reagindo ao comunicado.
Para este tradutor que trabalhou para o exército norte-americano, os talibãs acabarão por prejudicá-lo.
"Dizem que não vão vingar-se, mas têm como alvo as forças do Governo, pelo que com certeza vão também tentar atingir-nos", disse Walizada.
"Eles atacam jornalistas, por que não nos atacarão?", questiona este tradutor, recordando os recentes ataques contra académicos e estudantes, em Cabul e nas províncias.
Após o acordo de retirada incondicional assinado entre os talibãs e os Estados Unidos, o Presidente norte-americano, Joe Biden, definiu a data simbólica de 11 de setembro para a conclusão da partida das tropas estrangeiras, mas as operações podem ser concluídas ainda neste verão.
Os vistos para os Estados Unidos foram drasticamente reduzidos nos últimos anos, com as autoridades norte-americanas a alegar que alguns extremistas se disfarçaram de tradutores.
De acordo com a embaixada dos Estados Unidos em Cabul, cerca de 18 mil afegãos ainda aguardam o processamento dos seus pedidos, mas as requisições de um número equivalente de funcionários afegãos já foram validadas, ao longo dos últimos 20 anos, de acordo com um relatório da Universidade de Brown.
O chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, garantiu hoje, durante uma audiência parlamentar em Washington, que a equipa administrativa foi reforçada para examinar os pedidos.
Questionado pelo congressista republicano Michael McCaul sobre a necessidade de acolher estes intérpretes o mais depressa possível, o secretário de Estado deixou uma mensagem de tranquilidade.
"Estamos a analisar todas as opções. Mas não creio que a saída das nossas forças em julho, agosto ou no início de setembro seja sinónimo de uma imediata deterioração da situação", disse Blinken.
O Governo britânico disse recentemente que deseja acelerar a realocação da sua equipa afegã: 1.358 afegãos foram acolhidos por Londres e mais outras 3.000 pessoas devem beneficiar deste programa.
Após a retirada do exército francês do país, no final de 2012, vários intérpretes relataram ameaças e continuaram a exigir um visto para Paris, mas pouco menos de metade dos 770 funcionários empregados na época o obteve.
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