"A Tanzânia tomou uma decisão de que não deve criar um campo de refugiados na fronteira com Moçambique por razões de segurança", afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (MNE) de Moçambique, António Muchave, em conferência de imprensa.
Muchave respondia a perguntas dos jornalistas sobre acusações de que as autoridades tanzanianas estão a deportar moçambicanos que entram no país em fuga da violência armada na província de Cabo Delgado.
O porta-voz do MNEC avançou que os dois governos acordaram que os cidadãos moçambicanos que fogem para a Tanzânia serão transportados com proteção das autoridades tanzanianas até à fronteira de Negomano, na província de Niassa, norte de Moçambique, visando o seu repatriamento.
"O que acordámos com a Tanzânia é que eles vão proteger os nossos cidadãos sempre que entram lá. O que eles fazem é transportá-los da fronteira de Namoto [entre Cabo Delgado e Tanzânia], percorrem uns 250 ou 300 quilómetros com a proteção tanzaniana até à fronteira de Negomano no Niassa, onde se julga que a situação é mais segura, e são devolvidos para o território moçambicano", explicou.
As autoridades dos dois países, prosseguiu, vão continuar a trabalhar para encontrar a melhor forma de proteger os deslocados.
No dia 04, o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) acusou a Tanzânia de ter recusado asilo a cerca de 3.800 moçambicanos em fuga dos ataques armados em Palma, Cabo Delgado, durante o mês de maio.
"Em maio, quase 3.800 moçambicanos foram devolvidos à força da Tanzânia através do posto fronteiriço de Negomano, de acordo com as autoridades moçambicanas", referiu o ACNUR num relatório.
Aquele órgão das Nações Unidas entregou ajuda naquele posto em 25 de maio e entrevistou 68 pessoas, entre as quais, "uma mulher que deu à luz enquanto foi forçada pela Tanzânia a regressar a Moçambique, sem receber assistência médica ou ajuda".
O ACNUR fala de relatos "preocupantes" e exorta "os países vizinhos a respeitarem o acesso ao asilo para aqueles que fogem da violência generalizada e dos conflitos armados no norte de Moçambique".
Na sede do distrito de Mueda, de que Negomano faz parte, o ACNUR entrevistou 26 moçambicanos "que confirmaram a repulsa sistemática e recorrente" por parte da Tanzânia, "bem como preocupações de proteção já anteriormente relatadas, como a separação das famílias e a falta de ajuda humanitária".
Grupos armados aterrorizam a província nortenha desde 2017, com alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.800 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.
O número de deslocados aumentou com o ataque contra a vila de Palma em 24 de março, uma incursão que provocou dezenas de mortos e feridos, sem balanço oficial anunciado.
A fuga de Palma continua e já provocou perto de 68.000 deslocados.
As autoridades moçambicanas anunciaram controlar a vila, mas os tiroteios têm se sucedido e a situação levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do empreendimento que tinha início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico na próxima década.
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