A médica birmanesa é acusada de abandonar as suas funções para se unir ao Movimento de Desobediência Civil que, com a sua greve por tempo indeterminado, pôs em xeque a junta militar, e de estar ligada ao Governo de Unidade Nacional (GUN), oposição, que o comando militar qualifica de "terrorista".
As autoridades prenderam Htar Htar Lin na quinta-feira, em Rangum, sob a acusação de "incitação à agitação pública", punível até três anos de prisão, escreveu hoje o jornal The Global New Light, de Myanmar, controlado pela junta militar.
Segundo os meios de comunicação social, a médica reconheceu que manteve contacto frequente com Zaw Wai Soe, o médico nomeado pelo GUN como ministro da Saúde e também perseguido pelos militares por escrever comunicados e discursos encorajadores a favor do movimento opositor e desenvolver programas sanitários para a dissidência política.
Por isso, também está acusada por associação com "grupos ilegais", crime que tem uma pena máxima de três anos de prisão.
Médicos e profissionais de saúde foram os primeiros a juntarem-se ao massivo Movimento de Desobediência Civil, depois os professores, funcionários e trabalhadores de múltiplos setores, que se recusam a trabalhar para a junta militar.
Com esta oposição, que paralisou desde fevereiro quase todos os hospitais públicos do país, os militares prenderam dezenas de trabalhadores da saúde.
Desde que os militares assumiram o poder, o país mergulhou num caos, enquanto médicos especialistas alertam para a possibilidade de existir um surto não detetado da pandemia, devido à desaceleração de testes e da campanha de vacinação.
Em 16 de abril, um grupo de políticos e ativistas que se opõem aos militares anunciou a formação do GUN, que procura restaurar o sistema democrático em Myanmar, com o apoio e o reconhecimento da comunidade internacional.
Desde o levantamento militar, que pôs fim a uma década de democracia no país, pelo menos 862 civis foram mortos na sequência da brutal repressão exercida pelas forças de segurança, segundo os números da Associação para a Assistência de Presos Políticos.
O exército birmanês justifica o golpe por uma suposta fraude eleitoral, nas eleições de novembro, que arrasou o partido liderado pela Prémio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, como já fizera em 2015, e foram considerados legítimos pelos observadores internacionais.
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