Estão inscritos perto de 60 milhões de eleitores (o Irão tem 83 milhões de habitantes), que dispõem de cerca de 70.000 assembleias de voto.
Num contexto de grave crise económica e social exacerbada pela pandemia de covid-19, sete candidatos foram autorizados a apresentarem-se às 13.ª presidenciais desde a revolução que deu origem à criação da República Islâmica em 1979: cinco ultraconservadores e dois reformadores.
Raissi, 60 anos, é o favorito após a desqualificação, por motivos não especificados, do único candidato que, segundo a imprensa local, lhe poderia fazer sombra: o ex-presidente do parlamento Ali Larijani, um conservador moderado.
O novo Presidente -- que no Irão tem prerrogativas limitadas dado o essencial do poder estar nas mãos do líder supremo, o ayatollah Ali Khamenei -- substituirá Hassan Rohani, figura destacada do designado movimento moderado, impedido pela Constituição de disputar um terceiro mandato consecutivo.
Além de Raissi, que obteve mais de 38% dos votos nas presidenciais de 2017, são candidatos o ultraconservador general Mohsen Rezai, antigo comandante-chefe dos Guardas da Revolução, que já concorreu nas presidenciais de 2009 e de 2013.
Também concorrente em 2013 foi o candidato ultraconservador Said Jalili, antigo secretário-geral do Conselho Supremo da Segurança Nacional, que nas últimas presidenciais obteve 11,4% dos votos, ficando em terceiro lugar à frente do general Rezai (10,6%).
Os outros dois ultraconservadores na disputa, os deputados Amirhossein Ghazizadeh-Hachemi e Alireza Zakani, são pouco conhecidos do público em geral.
O mesmo acontece com os dois candidatos reformadores - Abdolnasser Hemmati, ex-governador do Banco Central e Mohsen Mehralizadeh, um antigo vice-presidente -, que nem podem reivindicar o apoio da principal coligação reformista.
O escrutínio deve ser marcado por uma forte abstenção -- o que habitualmente favorece o campo conservador -- após o recorde registado nas legislativas de 2020 (57%), vencidas por uma grande coligação conservadora, depois da desqualificação de milhares de candidatos reformistas ou moderados.
Em Teerão, indica a agência France-Presse, a campanha eleitoral pareceu desenrolar-se em surdina e os cartazes dos candidatos eram quase inexistentes, com exceção dos de Raissi.
Segundo a AFP, a eleição presidencial parece despertar pouco entusiasmo, mesmo tendo em conta a crise sanitária, que limita as reuniões públicas.
Clément Therme, investigador no Instituto Universitário Europeu de Florença, considera que o primeiro intento do escrutínio é "tornar o regime mais coerente devido ao enfraquecimento do país".
"Face ao empobrecimento da população, trata-se, após a tomada do parlamento em 2020, de preparar o terreno (...) para a vitória do candidato Raissi", próximo de Khamenei, declara à AFP Therme, para o qual outro cenário é "improvável devido à baixa taxa de participação indicada nas (raras) sondagens" disponíveis (menos de 40%).
O descontentamento geral misturado com desencanto é palpável no país face à grave crise económica e social provocada pelo restabelecimento das sanções norte-americanas, que se seguiram à saída dos Estados Unidos do acordo internacional sobre o nuclear em 2018, e ampliada pela pandemia.
No inverno de 2017-2018 e em novembro de 2019, duas vagas de contestação foram reprimidas violentamente.
Os dois mandatos de Rohani foram marcados pelo fracasso da sua política de abertura após Washington ter denunciado o acordo nuclear, assinado em 2015.
Contudo, há duas semanas o Presidente cessante insistiu: "Foi o acordo sobre o nuclear que colocou o país no caminho do desenvolvimento (económico) e hoje a solução para o problema do país é que todos voltem ao acordo".
A campanha eleitoral no Irão decorreu ao mesmo tempo que em Viena se realizavam negociações para restaurar o acordo nuclear, com a reentrada dos norte-americanos e o regresso de Teerão ao cumprimento dos compromissos do pacto. Mas os conservadores sempre foram contra o acordo e o seu eventual reforço no poder pode representar mais um obstáculo para as discussões.
Face aos apelos ao boicote das eleições lançados do estrangeiro nas redes sociais, Khamenei exortou os cidadãos a não participarem no jogo dos "inimigos do islão" e a deslocarem-se às urnas.
Se nenhum dos candidatos obtiver a maioria absoluta está prevista uma segunda volta para 25 de junho.
Além do Presidente da República, os iranianos são chamados no próximo dia 18 a eleger os conselhos municipais e as urnas estarão abertas excecionalmente das 07:00 (03:30 em Lisboa) de sexta-feira às 02:00 de sábado (22:30 de sexta-feira em Lisboa) para evitar ajuntamentos, tendo em conta que o Irão continua a ser o país do Médio Oriente mais afetado pela pandemia da covid-19.
No total, 250.000 polícias serão mobilizados para garantir a segurança das eleições.
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