Irão elege novo Presidente na sexta-feira e Raissi é o favorito

Os iranianos são chamados às urnas na sexta-feira para escolherem um novo Presidente e o chefe da Autoridade Judiciária, o ultraconservador Ebrahim Raïssi, é o favorito, prevendo-se ainda uma forte abstenção.

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© ATTA KENARE/AFP via Getty Images

Lusa
16/06/2021 08:31 ‧ 16/06/2021 por Lusa

Mundo

Irão

 

Estão inscritos perto de 60 milhões de eleitores (o Irão tem 83 milhões de habitantes), que dispõem de cerca de 70.000 assembleias de voto.

Num contexto de grave crise económica e social exacerbada pela pandemia de covid-19, sete candidatos foram autorizados a apresentarem-se às 13.ª presidenciais desde a revolução que deu origem à criação da República Islâmica em 1979: cinco ultraconservadores e dois reformadores.

Raissi, 60 anos, é o favorito após a desqualificação, por motivos não especificados, do único candidato que, segundo a imprensa local, lhe poderia fazer sombra: o ex-presidente do parlamento Ali Larijani, um conservador moderado.

O novo Presidente -- que no Irão tem prerrogativas limitadas dado o essencial do poder estar nas mãos do líder supremo, o ayatollah Ali Khamenei -- substituirá Hassan Rohani, figura destacada do designado movimento moderado, impedido pela Constituição de disputar um terceiro mandato consecutivo.

Além de Raissi, que obteve mais de 38% dos votos nas presidenciais de 2017, são candidatos o ultraconservador general Mohsen Rezai, antigo comandante-chefe dos Guardas da Revolução, que já concorreu nas presidenciais de 2009 e de 2013.

Também concorrente em 2013 foi o candidato ultraconservador Said Jalili, antigo secretário-geral do Conselho Supremo da Segurança Nacional, que nas últimas presidenciais obteve 11,4% dos votos, ficando em terceiro lugar à frente do general Rezai (10,6%).

Os outros dois ultraconservadores na disputa, os deputados Amirhossein Ghazizadeh-Hachemi e Alireza Zakani, são pouco conhecidos do público em geral.

O mesmo acontece com os dois candidatos reformadores - Abdolnasser Hemmati, ex-governador do Banco Central e Mohsen Mehralizadeh, um antigo vice-presidente -, que nem podem reivindicar o apoio da principal coligação reformista.

O escrutínio deve ser marcado por uma forte abstenção -- o que habitualmente favorece o campo conservador -- após o recorde registado nas legislativas de 2020 (57%), vencidas por uma grande coligação conservadora, depois da desqualificação de milhares de candidatos reformistas ou moderados.

Em Teerão, indica a agência France-Presse, a campanha eleitoral pareceu desenrolar-se em surdina e os cartazes dos candidatos eram quase inexistentes, com exceção dos de Raissi.

Segundo a AFP, a eleição presidencial parece despertar pouco entusiasmo, mesmo tendo em conta a crise sanitária, que limita as reuniões públicas.

Clément Therme, investigador no Instituto Universitário Europeu de Florença, considera que o primeiro intento do escrutínio é "tornar o regime mais coerente devido ao enfraquecimento do país".

"Face ao empobrecimento da população, trata-se, após a tomada do parlamento em 2020, de preparar o terreno (...) para a vitória do candidato Raissi", próximo de Khamenei, declara à AFP Therme, para o qual outro cenário é "improvável devido à baixa taxa de participação indicada nas (raras) sondagens" disponíveis (menos de 40%).

O descontentamento geral misturado com desencanto é palpável no país face à grave crise económica e social provocada pelo restabelecimento das sanções norte-americanas, que se seguiram à saída dos Estados Unidos do acordo internacional sobre o nuclear em 2018, e ampliada pela pandemia.

No inverno de 2017-2018 e em novembro de 2019, duas vagas de contestação foram reprimidas violentamente.

Os dois mandatos de Rohani foram marcados pelo fracasso da sua política de abertura após Washington ter denunciado o acordo nuclear, assinado em 2015.

Contudo, há duas semanas o Presidente cessante insistiu: "Foi o acordo sobre o nuclear que colocou o país no caminho do desenvolvimento (económico) e hoje a solução para o problema do país é que todos voltem ao acordo".

A campanha eleitoral no Irão decorreu ao mesmo tempo que em Viena se realizavam negociações para restaurar o acordo nuclear, com a reentrada dos norte-americanos e o regresso de Teerão ao cumprimento dos compromissos do pacto. Mas os conservadores sempre foram contra o acordo e o seu eventual reforço no poder pode representar mais um obstáculo para as discussões.

Face aos apelos ao boicote das eleições lançados do estrangeiro nas redes sociais, Khamenei exortou os cidadãos a não participarem no jogo dos "inimigos do islão" e a deslocarem-se às urnas.

Se nenhum dos candidatos obtiver a maioria absoluta está prevista uma segunda volta para 25 de junho.

Além do Presidente da República, os iranianos são chamados no próximo dia 18 a eleger os conselhos municipais e as urnas estarão abertas excecionalmente das 07:00 (03:30 em Lisboa) de sexta-feira às 02:00 de sábado (22:30 de sexta-feira em Lisboa) para evitar ajuntamentos, tendo em conta que o Irão continua a ser o país do Médio Oriente mais afetado pela pandemia da covid-19.

No total, 250.000 polícias serão mobilizados para garantir a segurança das eleições.

Leia Também: Irão autoriza uso de emergência da sua primeira vacina

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