"O meu pedido" é para "ajudar a promover as mulheres que trabalham nas Nações Unidas (...). É o que gostaria que fizesse como secretário-geral da ONU", disse à agência Lusa numa entrevista por videoconferência.
A ativista falou à Lusa esta semana após participar numa iniciativa relacionada com as Conferências do Estoril, no âmbito das quais esteve em Portugal em 2013.
Shirin Ebadi foi a primeira mulher juíza no Irão, cargo que foi forçada a deixar após a Revolução Islâmica, e também a primeira mulher muçulmana e a primeira personalidade iraniana a ser galardoada com um Nobel, em 2003.
Disse à Lusa que nunca teve oportunidade de se encontrar com António Guterres e em relação à renovação do seu mandato à frente da ONU comentou: "Para dizer a verdade, em geral, o secretário-geral da ONU não tem muito poder".
"São as grandes potências do mundo que parecem dirigir o espetáculo e infelizmente (...) no Conselho de Segurança (o órgão executivo da ONU) elas têm poder de veto", adiantou.
A ativista dos direitos humanos, 73 anos e há cerca de 12 exilada em Londres, tem prestado particular atenção aos direitos das mulheres, cuja situação no Irão considera ter vindo a piorar.
Em 2009, numa entrevista à Lusa a propósito do lançamento do seu livro "A Gaiola de Ouro" em Portugal, Shirin Ebadi reconheceu que, enquanto mulher no Irão, continuava a sentir-se na pele de "um negro na altura do apartheid", devido às leis discriminatórias no país.
Mais de uma década depois considerou que "as mulheres iranianas continuam como os negros durante o apartheid".
"Infelizmente, a situação das mulheres não melhorou desde 2009, de facto, piorou. A situação está pior", disse, adiantando, por exemplo, que as "corajosas jovens que foram para as ruas e tiraram os seus lenços", que obrigatoriamente cobrem a cabeça das mulheres na República Islâmica, no âmbito da campanha contra o uso do véu islâmico, "foram detidas e receberam longas penas de prisão".
Em julho de 2019, a Amnistia Internacional acusou as autoridades do Irão de usarem "táticas cruéis para desacreditar as ativistas que fazem campanha contra o uso forçado do véu, dissuadir outras de se unirem ao movimento e incutir medo na sociedade".
A campanha das White Wednesdays (Quartas-feiras brancas), para as iranianas partilharem vídeos onde apareciam sem véu e se manifestavam contra o seu uso obrigatório, foi lançada na sequência da criação em 2017 do movimento 'online' My stealthy freedom (Minha liberdade furtiva) pela ativista iraniana Masih Alinejad.
No âmbito da Iniciativa das Mulheres Nobel, organização de que foi cofundadora em 2006 com outras cinco prémios Nobel, Shirin Ebadi disse à Lusa ter estado recentemente a trabalhar "num projeto com mulheres ativistas de direitos humanos no Médio Oriente".
A prémio Nobel recordou que a organização tenta "trabalhar como megafone de indivíduos cujas vozes não são ouvidas" e que está a realizar um relatório baseado em vários seminários que decorreram no Médio Oriente.
"Será divulgado em breve (o relatório) e o mundo poderá ver como as mulheres no Médio Oriente continuam as suas campanhas", disse Shirin Ebadi, adiantando que o texto destacará "os problemas que estas mulheres (ativistas) enfrentam" na região.
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