Igreja francesa quer esclarecimento de Roma sobre crimes de abade

A Igreja francesa vai pedir esclarecimentos ao Vaticano sobre revelações recentes de que tinha conhecimento, desde 1955, de acusações de agressões sexuais contra o abade Pierre, anunciou esta quinta-feira a Conferência Episcopal Francesa (CEF).

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© REUTERS/Remo Casilli

Lusa
17/04/2025 16:52 ‧ há 2 dias por Lusa

Mundo

Igreja Católica

"Os elementos que vieram a lume são graves e merecem ser aprofundados, para se compreender o que se passou e como se comportaram os bispos franceses" na altura, declarou a CEF num comunicado enviado à agência de notícias France-Presse (AFP).

 

O sacerdote francês, que morreu em 2007, é alvo de uma série de acusações de abuso sexual desde 2024.

Num livro publicado hoje, "Abbé Pierre, la fabrique d'un saint" (a construção de um santo, numa tradução livre), as jornalistas Laetitia Cherel e Marie-France Etchegoin explicam que os arquivos do Vaticano mostram que Roma tinha conhecimento das ações do abade "já no outono de 1955".

Referem-se, em particular, a uma carta do Vaticano, datada de 11 de novembro de 1955, dirigida a Alexandre Renard, bispo de Versalhes (região parisiense), instando-o a abrir "um processo judicial".

O bispo respondeu que parecia que as relações desonrosas do abade "eram menos graves" do que se dizia.

Informou também o Vaticano de que o abade Pierre se tinha tornado "um símbolo aos olhos das massas" em França, que ele galvanizava "à maneira de um profeta".

É "bom que a verdade possa ser dita, e é por isso que a CEF abriu" os arquivos do Centro Nacional dos Arquivos da Igreja de França (CNAEF) em setembro de 2024, disse a Conferência Episcopal no comunicado.

A CEF disse também que pediu ao Vaticano que investigasse o caso nos respetivos arquivos.

"Tendo em conta a gravidade dos factos mencionados", a CEF disse que vai contactar as autoridades da Igreja Católica "para esclarecer estes elementos de que não tinha conhecimento, não tendo qualquer vestígio nos seus arquivos".

"Será também necessário perceber como é que tudo isto pode ter sido esquecido e, eventualmente, desaparecido dos arquivos do CNAEF a partir de 1970", acrescentou.

Henri Antoine Groués (1912-2007), mais conhecido como abade Pierre, foi um sacerdote católico francês que fundou o Movimento Emaús.

Conhecido pelo trabalho na Resistência contra os ocupantes alemães desde 1942, introduziu clandestinamente judeus na Suíça, com documentos falsos que ajudou a imprimir, e contribuiu para a criação de grupos de resistentes.

Mas as duas jornalistas citam também observações feitas pelo padre sobre os judeus, em 1944, perante os serviços especiais da França Livre, referindo-se a "famílias forçadas à ociosidade (sem culpa, evidentemente), mas transbordantes de ouro, com o qual se apoderaram impiedosamente de tudo".

Em meados da década de 1990, apoiou o filósofo negacionista do Holocausto Roger Garaudy, autor de um livro revisionista e condenado por negação de crimes contra a humanidade.

Mais tarde, justificou que tinha agido por amizade a Garaudy.

Além de denúncias sobre a gestão da Emmaús, que recebeu fundos do Estado para apoiar pessoas sem casa, o livro também reforça a imagem do abade como predador, revelada pelas acusações de agressão sexual e violação que surgiram desde 2024.

Em 1955, o antigo embaixador no Vaticano, Jacques Maritain, descreveu o abade Pierre como "muito doente", talvez sofrendo de esquizofrenia, segundo os arquivos consultados pelas autoras.

Baseado em cartas, o livro retrata também um homem manipulador, que "maquinava para subir na carreira de deputado" (1946-1951) e que "manipulava para silenciar os que se atravessavam no caminho", longe da imagem pública de modéstia e de bom caráter.

Leia Também: Vaticano inicia período da Semana Santa com Papa substituído por cardeais

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