Irão: Povo está "cansado" e muitos vão boicotar presidenciais

A ativista e Nobel da Paz iraniana Shirin Ebadi considera que o povo do Irão está "cansado" e "frustrado" com a ditadura no seu país, prevendo que muitos vão boicotar as presidenciais na próxima sexta-feira.

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© Carlos Alvarez/Getty Images

Lusa
16/06/2021 09:22 ‧ 16/06/2021 por Lusa

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"O Irão é uma teocracia, é uma ditadura e o povo está cansado, está frustrado com tudo isto e vai haver apatia no que diz respeito às eleições, eles vão boicotá-las, muitas pessoas vão boicotar as eleições", disse à agência Lusa Shirin Ebadi numa entrevista por videoconferência.

Ícone da luta pelos direitos humanos, Shirin Ebadi falou à Lusa esta semana após participar numa iniciativa relacionada com as Conferências do Estoril, no âmbito das quais deu uma conferência em Portugal em 2013.

"Os associados ao regime, os Guardas da Revolução (exército ideológico do Irão) e as suas famílias, podem atingir 50% do eleitorado, talvez vão às urnas votar, mas pode ter a certeza que a população em geral não irá às assembleias de voto", insistiu.

A advogada, 73 anos, que vive exilada no Reino Unido há cerca de 12 anos, lembrou que "de acordo com a Constituição da República Islâmica do Irão, a autoridade absoluta em todo o país é o líder supremo" -- atualmente o 'ayatollah' Ali Khamenei.

"No meu país, que tem uma população de mais de 80 milhões de pessoas, a maioria das quais são muçulmanos, é a interpretação do Islão de apenas uma pessoa que interessa, a do líder supremo", adiantou.

Shirin Ebadi disse que "as pessoas costumavam pensar que se tivessem um dia um Presidente que fosse um pouco mais progressista e tolerante então a situação seria melhor", mas recordou que o Presidente Mohammad Khatami (1997-2005), considerado um reformista, "não pode fazer nada, porque não tinha poder, devido à Constituição".

Assinala que "o povo não desempenha qualquer papel na nomeação do líder supremo", que é nomeado por "clérigos de alto escalão" e "para toda a vida", tal como "o Papa é escolhido".

"E agora o país está num impasse", afirmou a Nobel da Paz 2003.

Os iranianos são chamados às urnas na sexta-feira para escolherem um novo presidente e o favorito é o chefe da Autoridade Judiciária, o ultraconservador Ebrahim Raïssi, que obteve mais de 38% dos votos nas anteriores presidenciais e que Shirin Ebadi classificou de "pessoa terrível".

Num contexto de grave crise económica e social exacerbada pela pandemia de covid-19 e após uma taxa de participação nas legislativas de 2020 que não atingiu os 50%, Khamenei exortou os cidadãos a não participarem no jogo dos "inimigos do islão" e a deslocarem-se às urnas.

Mas a ativista dos direitos humanos salienta que as pessoas sabem que quem quer que vença as presidenciais "não terá qualquer poder até que mudem a Constituição".

"Não interessa quem é eleito, seja uma pessoa terrível como Ibrahim Raissi ou quem quer que seja, a situação não mudará a não ser que mude a Constituição", declarou Shirin Ebadi.

A primeira mulher juíza no Irão, forçada a deixar o cargo após a Revolução Islâmica, considera que "o povo iraniano tem sido muito ativo em tentar alcançar a democracia no seu país e pagou um preço elevado por isso".

Dá o exemplo dos protestos há dois anos em todo o Irão devido ao aumento do preço do combustível. "O governo cortou a Internet no país durante três dias e começou a disparar sobre os manifestantes e a matar manifestantes. Durante estes três dias mais de 1.200 pessoas foram mortas por forças do governo e mais de 7.000 foram detidas, mas as pessoas não desistiram apesar desta repressão", referiu.

Shirin Ebadi diz que "o povo iraniano está a dar o seu melhor" e pede à comunidade internacional: "ouçam a voz do povo iraniano, o povo iraniano não quer esta teocracia, não quer mais esta ditadura".

Para ajudar os que querem a democracia no Irão, "o Ocidente não pode ajudar estes ditadores" e "quando, por exemplo, tiverem de fazer negociações sobre comércio ou energia nuclear têm que destacar os direitos humanos (...) têm de pedir ao governo iraniano para respeitar os direitos humanos", defendeu.

Leia Também: Irão elege novo Presidente na sexta-feira e Raissi é o favorito

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