"Vim para a Finlândia em 1989. A razão que me trouxe foi o amor. Vim atrás de uma mulher, atrás do amor", disse Ilídio Monteiro Flores, 46 anos, à agência Lusa, por telefone, a partir da cidade de Suolahti, no centro da Finlândia.
À época, viviam na cidade de cinco mil habitantes, incluindo três portugueses, um número que pouco se alterou desde então.
Monitor do ensino especial, durante dez anos viveu de trabalhos precários e desde sempre se dedicou ao voluntariado desportivo como treinador de futebol de crianças e jovens.
Actualmente, é assistente pessoal de uma criança autista na escola.
O apelo da política surgiu em 2000, quando foi convidado pela Liga de Esquerda para se candidatar à autarquia Suolahti e ficou a quatro votos de ser eleito.
Em 2008, já com a cidade fundida com mais duas, candidatou-se pelo Partido Comunista Finlandês, mas recolheu "apenas 32 votos".
"Este ano voltei às origens. A Liga de Esquerda convidou-me para fazer parte da lista como independente, aceitei e acabei por ser eleito (no fim de semana passado) num universo de 20 mil habitantes com 15 mil votantes e abstenção de 42 por cento", disse, explicando que irá ocupar um cargo equivalente a vereador em Portugal na área da Cultura e Desporto.
O português atribui a vitória sobretudo ao facto de sempre "ter sido muito activo" na comunidade, por ser conhecido "no mundo do futebol" e pelos artigos de opinião que escreve com frequência para os jornais finlandeses.
"À terceira foi de vez", disse, explicando que na Finlândia os eleitores votam directamente nos candidatos.
Ilídio Torres, que não tem nacionalidade finlandesa, elogia o sistema político local que a nível autárquico não impõe quaisquer limitações às candidaturas de estrangeiros.
Com uma comunidade portuguesa de cerca de 350 pessoas, concentrada sobretudo na capital Helsínquia, Ilídio Torres disse à Lusa que houve mais três candidatos de origem portuguesa às eleições locais, que contudo não conseguiram ser eleitos.
Os países escandinavos têm sido apontados nos últimos tempos em Portugal como aliciantes destinos de emigração para os licenciados portugueses, mas Ilídio Torres garante que não é significativo o número de portugueses a chegar ao país.
"Estudantes têm vindo através do programa Erasmus, mas emigrantes não. A Finlândia nunca foi país de emigração e aqui também há dificuldades económicas. A Finlândia também está em recessão. Apesar de ser ainda um país do bem-estar, começa a haver sem-abrigo e muita gente a ficar pobre. Pelos critérios da União Europeia há cerca de 500 mil pobres no país", disse.