Segundo fontes ouvidas pela agência noticiosa Efe, Bagram, localizada a cerca de 70 quilómetros de Cabul, foi abandonada pelo último grupo de forças norte-americanas pouco depois da meia-noite de sexta-feira, em plena escuridão e sem aviso prévio.
"Descobrimos na sexta-feira de manhã, por volta das 06:00, porque não nos informaram sobre a partida do último grupo", disse à Efe um oficial de segurança afegão, transferido para a base aérea de Bagram.
"Pelo menos poderiam ter-nos feito o favor de nos informar sobre a partida do seu último homem", afirmou.
Quando as forças afegãs entraram pela manhã, a base tinha sido invadida por habitantes locais, que saltaram os muros, saquearam as instalações e tentaram derrubar as paredes, para remover veículos do interior.
"Quando nos demos conta, apressámo-nos a entrar na base para impedir o saque, detivemos cerca de 70 pessoas, outros fugiram", relatou.
As forças da coligação começaram a retirar 2.500 soldados norte-americanos e 7.000 da NATO do Afeganistão em 01 de maio, após quase 20 anos de guerra.
Antes disso, as tropas italianas e alemãs nas províncias de Herat e Balkh também deixaram as suas bases, sem anunciarem a sua retirada.
"Eles invadiram o Afeganistão sem o consentimento dos afegãos e agora partiram sem coordenação com as nossas forças de segurança. Isto é a prova de como são apáticos e indiferentes ao nosso povo e ao nosso país", disse Ibrahim, um lojista de 28 anos que vende sucata perto da base.
Até agora, Bagram podia ser vista à distância como uma cidade brilhante, e mesmo as aldeias circundantes cintilavam com as luzes da base.
"Hoje, todas as grandes luzes estão apagadas, a área parece um cemitério, os americanos deixaram um cemitério, não uma base aérea", lamentou.
A grande fortaleza albergou até 100.000 forças de coligação no seu auge, e foi a partir daí que a maior parte das operações aéreas e ataques de contra insurgência foram conduzidos nas duas décadas de guerra.
A base foi equipada com tecnologia de guerra moderna pelas forças norte-americanas, e apesar dos constantes ataques de foguetes e morteiros dos talibãs, ninguém se sentiu inseguro no seu interior, graças ao complexo sistema de defesa.
Bagram abriga ainda uma prisão controversa onde centenas de combatentes talibãs se encontram detidos há anos.
Agora, "cada hangar e quarto dentro da base está escuro como um túmulo, não há eletricidade, não sabemos onde ligar ou desligar os geradores de eletricidade", disse outro oficial de segurança à Efe.
Cada torre de vigia tem portas protegidas por senha, que não terá sido transmitida, impedindo o acesso. "Os nossos soldados não puderam usar essas portas para subir às torres de vigia", explicou.
Os afegãos devem agora gerir a base com equipamento básico, porque os norte-americanos, disse, "tiraram todos os sistemas defensivos e de vigilância e equipamento moderno, que estavam a utilizar para a segurança da base".
A retirada dos EUA da base estratégica de Bagram também tem efeitos negativos na segurança e na vida quotidiana dos cidadãos em redor da base e das aldeias próximas.
Os residentes temem a eventual chegada dos talibãs ao território.
"Não sabemos o que fazer depois disto, devemos deixar o país ou não? Porque a situação do Governo também não é boa", disse Rashid.
A retirada das forças dos EUA e da NATO coincide com um aumento dos ataques dos talibãs, que desde 01 de maio capturaram mais de 80 centros distritais e estão a perseguir várias capitais de província.
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