De acordo com uma declaração hoje divulgada e citada pela agência noticiosa Efe, o ministro dos Negócios Estrangeiros e vice-primeiro-ministro etíope, Demeke Mekonnen, "chamou os países ribeirinhos a forjar uma frente comum para se oporem à abordagem adotada pelos Estados a jusante que mina o papel da União Africana e acentua as reivindicações coloniais e monopolistas dos dois países".
Embora Adis Abeba não tenha especificado na declaração que Estados tinham enviado um representante à reunião, República Democrática do Congo (RDCongo), Ruanda, Sudão do Sul, Quénia, Burundi, Tanzânia e Uganda são os restantes países que integram a bacia hidrográfica do Nilo.
A Etiópia criticou na terça-feira a "intromissão" dos países árabes na polémica, numa carta dirigida ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, que realizará na quinta-feira uma sessão extraordinária sobre a Grande Barragem do Renascimento Etíope (GERD, em inglês), a pedido da Liga Árabe.
Os responsáveis pela diplomacia dos Estados da Liga Árabe reuniram-se em junho pela primeira vez para discutir a GERD, depois de o Egito ter procurado a organização para obter apoio internacional.
A Liga Árabe respondeu ao apelo egípcio e apoiou Cairo e Cartum, tendo apelado à Etiópia para se abster de tomar medidas unilaterais -- algo que viria a fazer na segunda-feira, quando Adis Abeba informou o Egito de que iniciou o segundo processo de enchimento da barragem.
"A abordagem da Liga corre o risco de minar as relações amigáveis e de cooperação entre a União Africana e a Liga Árabe, dado que a negociação trilateral sobre a GERD está a ter lugar sob a direção da União Africana", aponta a carta enviada ao Conselho de Segurança da ONU.
Egito e Sudão rejeitaram a iniciativa de Adis Abeba, assinalando que poderá agravar as tensões antes da reunião do Conselho de Segurança.
Depois de o Egito ter anunciado, na noite de segunda-feira, que tinha sido informado pela Etiópia do início da segunda fase de enchimento da barragem, o Sudão afirmou hoje que tinha recebido a mesma notificação.
No entanto, a Etiópia não confirmou oficialmente esta operação. Um responsável etíope citado pela agência France-Presse (AFP), sob anonimato, afirmou que a operação teria lugar "em julho e agosto" e que a acumulação de água é um processo natural, em particular devido à estação chuvosa.
Após o fracasso das últimas rondas negociais, realizadas entre 04 e 06 de abril sob os auspícios da presidência rotativa da União Africana, a Etiópia disse que iria avançar com o processo de enchimento da GERD e que fez uma oferta ao Egito e ao Sudão para facilitar a troca de informações sobre o processo, que ambos os países rejeitaram.
Cairo e Cartum, por sua vez, alertaram Adis Abeba sobre a tomada de qualquer "ação unilateral", afirmando que, nessa eventualidade, "todas as opções estarão abertas".
Os dois Estados consideram que o processo de enchimento da barragem pode afetar gravemente os níveis de água do Nilo nos seus respetivos troços.
A Etiópia, por sua vez, considera que o projeto é estratégico para o seu desenvolvimento, tanto em termos de irrigação, como em termos de produção de eletricidade.
A GERD, avaliada em mais de 4 mil milhões de dólares (mais de 3,5 mil milhões de euros), deverá recolher 13,5 mil milhões de metros cúbicos de água do rio Nilo Azul durante a época chuvosa, aumentando a reserva para 18,4 mil milhões de metros cúbicos, segundo este departamento governamental.
O Nilo Azul, rio que conflui com Nilo Branco e com o rio Atbara, é um dos principais contribuintes do rio Nilo, sendo responsável, durante a estação chuvosa, por até cerca de 80% da água deste último.
Atualmente, a GERD está 80% concluída, esperando-se que atinja a plena capacidade de produção em 2023, o que a tornará na maior central hidroelétrica africana e a sétima maior do mundo, segundo órgãos de comunicação social estatais.
Sudão e Egito temem que a construção do projeto, que vai permitir à Etiópia gerar 6.000 megawatts de eletricidade, coloque o caudal do rio Nilo sob o controlo da administração etíope.
Com cerca de 6.000 quilómetros, o rio Nilo é uma fonte vital para o abastecimento de água e eletricidade para cerca de 10 países da África Oriental.
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