Talibãs querem transição pacífica de poder nos próximos dias

Os talibãs querem assumir o poder no Afeganistão "nos próximos dias" através de uma transição "pacífica", disse hoje um porta-voz dos talibãs à BBC, enquanto as suas tropas cercavam a capital.

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Lusa
15/08/2021 13:43 ‧ 15/08/2021 por Lusa

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Afeganistão

"Nos próximos dias queremos uma transferência pacífica" de poder, disse Suhail Shaheen, porta-voz de um grupo envolvido nas negociações, baseado no Qatar.

Suhail Shaheen delineou os planos políticos dos talibãs para um regresso do movimento islâmico radical ao poder, 20 anos após ter sido expulso pelas forças internacionais na sequência dos ataques de 11 de Setembro.

"Queremos um governo islâmico inclusivo, o que significa que todos os afegãos estarão representados neste governo", assegurou Suhail Shaheen, "falaremos disso no futuro, quando a transição pacífica tiver acontecido.

O porta-voz do grupo também assegurou que as embaixadas internacionais e os seus funcionários não serão alvo de ataques e que devem permanecer no país.

"Não há risco para os diplomatas, organizações humanitárias, ninguém. Todos eles devem continuar a trabalhar como têm feito até agora. Nenhum mal lhes acontecerá, devem ficar", insistiu.

Descartando receios de que o país regressasse aos tempos do início do domínio talibã, com a aplicação rigorosa das regras islâmicas, Shaheen disse que os talibãs querem agora abrir "um novo capítulo" de tolerância.

"Queremos trabalhar com todos os afegãos, queremos abrir um novo capítulo de paz, tolerância, com coexistência pacífica e unidade nacional para o país e o povo afegão", afirmou.

As declarações do porta-voz surgem na sequência de vários funcionários, soldados e polícias que trabalharam com os governantes anteriormente no poder ou com as forças ocidentais terem abandonado os seus postos por medo de represálias.

Segundo Shaheen, estes medos são infundados: "Queremos assegurar novamente que não há retaliação contra ninguém. Se isto acontecer, será investigado".

O porta-voz disse ainda que o grupo teria de rever em breve a sua relação com os EUA, que foi marcada por duas décadas de conflito.

"A nossa relação é agora uma coisa do passado", disse ele, acrescentando: "Para o futuro, só se referirá às nossas escolhas políticas, nada mais, será um novo capítulo de cooperação".

Entretanto, o Presidente afegão, Ashraf Ghani, pediu às autoridades que garantam a "segurança de todos os cidadãos", mantendo a ordem e a lei em Cabul, após a chegada dos talibãs à capital, e avisou que pode recorrer à força.

Ghani avisou ainda que "quem pensar em criar caos ou iniciar saques será tratado com recurso à força".

Os talibãs chegaram hoje às portas de Cabul, e o Governo afegão reconheceu que foram feitos "disparos", embora os insurgentes assegurem que não vão entrar na capital à força e estão a negociar uma transição de poder.

Os rebeldes receberam ordens para permanecerem às portas de Cabul e não entrar na capital afegã, disse hoje um porta-voz, apesar de os insurgentes terem sido já avistados por residentes em subúrbios distantes.

"O Emirado Islâmico ordena a todas as suas forças que esperem às portas de Cabul, que não tentem entrar na cidade", disse no Twitter Zabihullah Mujahid, um porta-voz dos talibãs.

"Há combatentes talibãs armados na nossa vizinhança, mas não há combates", disse à AFP um residente de um subúrbio oriental da capital.

Negociadores talibãs dirigiram-se hoje ao Palácio Presidencial para tentar negociar uma transição pacífica de poder.

O ministro do Interior afegão, Abdul Sattar Mirzakwal, também afirmou que haverá uma "transferência pacífica de poder": "Os afegãos não devem preocupar-se (...) Não haverá nenhum ataque à cidade [de Cabul]. E haverá uma transferência pacífica de poder para um governo de transição".

Em pouco mais de uma semana, os talibãs tomaram controlo de praticamente todo o país, tendo hoje elevado para 28 o número de capitais de província, de um total de 34, sob seu domínio.

A situação é de pânico em Cabul, com as autoridades afegãs a pedirem a todos os funcionários que abandonem os seus postos de trabalho e vão para casa, enquanto lojas e bancos estão encerrados e o trânsito paralisado por fortes engarrafamentos.

Leia Também: Talibãs reivindicam controlo de outras duas capitais provinciais

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