"Estamos a dar coletes salva-vidas a pessoas que já têm coletes salva-vidas, enquanto [outras] pessoas estão a morrer afogadas, esta é a realidade", criticou, numa referência ao fosso entre os países mais ricos e os países mais pobres, o diretor-executivo do Programa de Emergências de Saúde da OMS, Michael Ryan, na videoconferência de imprensa regular da organização sobre a evolução da pandemia da Covid-19.
"Estamos a deixar milhões de pessoas sem nenhuma proteção", enfatizou.
A OMS reiterou que os dados científicos à data não suportam a necessidade de administração generalizada de doses adicionais de vacinas.
"Vamos tomar as decisões com base nos dados científicos", apelou a cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, assinalando que são precisos mais dados científicos para se saber quando e a que grupos populacionais será necessário reforçar a vacinação.
De acordo com a OMS, os "poucos dados" de que dispõe "sugerem a redução da eficácia da proteção" das vacinas "em relação à doença ligeira", mas "não em relação à prevenção da doença grave".
"Não sabemos se as doses de reforço farão uma grande diferença na doença grave e morte. Sabemos que vacinar o maior número possível de pessoas salvará vidas", disse Bruce Aylward, responsável na OMS pelo Covax, mecanismo de distribuição universal e equitativa de vacinas contra a Covid-19, ao qual, voltou a lamentar, continuam a não chegar doses suficientes para dar aos países mais pobres.
A 4 de agosto, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pediu uma moratória sobre as doses de reforço, "pelo menos até ao fim de setembro", para que os países pobres pudessem imunizar a sua população.
Hoje, voltou a lembrá-lo, realçando que estes países, que "nem mesmo foram capazes de vacinar os profissionais de saúde, estão agora a enfrentar grandes picos" de casos.
Tedros Adhanom Ghebreyesus recordou que os países mais pobres vacinaram apenas 2 por cento da sua população.
"A injustiça vacinal é uma vergonha para toda a humanidade e se não a enfrentarmos juntos, prolongaremos o estado agudo desta pandemia por anos, quando poderia acabar numa questão de meses", apontou.
Numa tentativa de conter a disseminação da variante Delta do novo coronavírus, mais contagiosa, vários países, como Estados Unidos, Alemanha, França e Bélgica, anunciaram que vão avançar com a administração de uma terceira dose às pessoas mais vulneráveis, como idosos e imunodeprimidos.
Os Estados Unidos tencionam, inclusive, alargar a terceira dose a toda a população, aplicando-a oito meses após a conclusão da vacinação com duas doses.
Israel foi o primeiro país do mundo a dar uma terceira dose, administrando-a pessoas a partir dos 50 anos.
Apoiando-se nos dados científicos e técnicos à data, o regulador português do medicamento afastou, em 23 de julho, a necessidade da administração de doses adicionais, embora o país tenha acautelado essa eventualidade com a compra de mais vacinas.
Hoje, a OMS esclareceu que o aumento de infeções com o coronavírus que causa a Covid-19 está a ocorrer, sobretudo, em países com "baixa cobertura vacinal" e com "uso inconstante de medidas de saúde pública", propiciando a disseminação da variante Delta.
A pandemia da Covid-19 provocou pelo menos 4.381.911 mortes em todo o mundo, entre mais de 208,5 milhões de casos de infeção, segundo o mais recente balanço da agência noticiosa AFP.
Em Portugal, desde março de 2020, morreram 17.601 pessoas e foram registados 1.009.571 casos de infeção, de acordo com o boletim atualizado da Direção-Geral da Saúde.
A Covid-19 é uma doença respiratória causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, tipo de vírus detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China.
Existem quatro variantes do SARS-CoV-2 consideradas preocupantes pela OMS, sendo a Delta a mais transmissível.
Especialistas e farmacêuticas têm sublinhado que as vacinas em circulação contra a Covid-19 são eficazes, mesmo com as variantes, na prevenção da doença grave e morte.
Contudo, as vacinas não evitam a infeção e a transmissão do vírus.
[Notícia atualizada às 18h00]
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