Malala, que sobreviveu em 2012 a um atentado perpetrado pelos talibãs por defender a educação das mulheres, declarou-se "muito preocupada e exausta" perante a escalada autoritária no Afeganistão, depois de o Presidente do país ter abandonado o país e o grupo extremista ter tomado o poder.
"Toda a gente tem medo, toda a gente está preocupada", disse a ativista durante um evento 'online' organizado por uma empresa de investimento brasileira.
Apesar de considerar que os talibãs poderão estar "ligeiramente mais moderados" do que quando governaram o país entre 1996 e 2001, a Nobel da Paz indicou que as mensagens que chegam do país asiático são, até agora, "de sinal contrário" e "não claras".
"A mensagem dos talibãs é muito vaga, ainda não está muito claro. Houve um compromisso quanto aos direitos das mulheres, de acesso à educação e ao trabalho, mas estão todos muito assustados à espera do que vai acontecer", disse Malala, acrescentando que mantém contacto com líderes mundiais e ativistas para ajudar a retirar cidadãos afegãos do país em segurança.
"É uma situação complicada, mas estamos a fazer tudo o que é possível para protegê-los e retirá-los do país, em especial aos grupos de maior risco", assegurou.
A ativista instou os países a porem de lado "o egoísmo" e a abrirem as suas fronteiras para acolher os afegãos ameaçados pelo regime talibã, facultando abrigo, proteção e acesso à saúde e à educação.
Pediu igualmente que mais países se envolvam nas operações de retirada de civis do Afeganistão, que decorrerão até 31 de agosto, e ofereçam "instalações seguras", para que as pessoas possam chegar ao aeroporto de Cabul sabendo que deixarão o país de forma segura.
"Mas como os voos são muito difíceis, as pessoas também deveriam encontrar segurança atravessando as fronteiras com o Turquemenistão, o Irão, o Paquistão ou a China", comentou.
Em tempos de conflito, prosseguiu Malala, a educação torna-se "mais necessária que nunca", pelo que a comunidade internacional não pode "permitir que aconteçam coisas sem ajudar".
"Não acreditamos em promessas verbais, precisamos de ver ações concretas. É muito importante que os Governos dos países vizinhos [do Afeganistão] se unam numa coligação para proteger as pessoas e os seus direitos", sustentou.
"A negação dos direitos já aconteceu no passado. Como confiar nas mesmas pessoas que já negaram os direitos da população?", indagou.
A Nobel também revelou que, há duas semanas, enquanto os talibãs tomavam o poder no Afeganistão, ela estava a recuperar da sua sexta cirurgia desde que, há nove anos, foi baleada na cabeça pelo grupo radical islâmico, o que a impediu de continuar a lutar pela educação das meninas.
"Os talibãs tentaram silenciar-me, e a melhor resposta que poderei dar é continuar a erguer a voz para defender o direito das meninas a estudar", concluiu.
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