Belém assinala segundo Natal sombrio com a guerra em Gaza

Belém, na Cisjordânia, tradicional local de nascimento de Jesus, marca hoje a segunda véspera de Natal sombria face à guerra na Faixa de Gaza.

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© Issam Rimawi/Anadolu via Getty Images

Lusa
24/12/2024 16:38 ‧ há 12 horas por Lusa

Mundo

Belém

O entusiasmo e a alegria que tipicamente invadem a cidade palestiniana na Cisjordânia ocupada no Natal estão arredados das festividades alusivas à época.

 

As luzes festivas e a árvore gigante que normalmente decoram a Praça da Manjedoura não foram erguidas, com o local também sem as habituais multidões de turistas estrangeiros que normalmente enchem a área.

Os escuteiros palestinianos desfilaram silenciosamente pelas ruas, em vez da sua habitual banda de metais. Alguns carregavam um cartaz que dizia: "Queremos vida, não morte".

Entretanto, as forças de segurança palestinianas colocaram barreiras junto à Igreja da Natividade, construída sobre o local onde se crê que Jesus nasceu, e um trabalhador limpou os caixotes do lixo.

"A mensagem de Belém é sempre uma mensagem de paz e de esperança", disse o Presidente da Câmara, Anton Salman.

"E nestes dias, estamos também a enviar a nossa mensagem ao mundo: paz e esperança, mas insistindo que o mundo deve trabalhar para acabar com o nosso sofrimento como povo palestiniano."

O cancelamento das festividades de Natal é um duro golpe para a economia da cidade, pois o turismo é responsável por cerca de 70% das receitas de Belém, quase todas provenientes da época natalícia. 

Salman afirmou que o desemprego ronda os 50%, mais do que os 30% no resto da Cisjordânia, de acordo com o Ministério das Finanças palestiniano.

O Patriarca Latino Pierbattista Pizzaballa, o principal clérigo católico romano na Terra Santa, passeou pela cidade e testemunhou as lojas fechadas e as ruas vazias, manifestando a esperança de que o próximo ano seja melhor.

"Este tem de ser o último Natal tão triste. Trago-vos as saudações, as orações, dos nossos irmãos e irmãs em Gaza", disse Pizzanballa a centenas de fiéis reunidos na Praça da Manjedoura, onde normalmente se juntavam dezenas de milhares de pessoas.

Pizzaballa celebrou domingo uma missa especial antes do Natal na Igreja da Sagrada Família, mas na cidade de Gaza. 

"Vi tudo destruído, pobreza, desastre, mas também vi vida. Eles não desistem, por isso nós não desistimos", disse.

O número de visitantes da cidade caiu de uma alta pré-covid-19 de cerca de dois milhões de visitantes por ano em 2019 para menos de 100.000 visitantes em 2024, disse Jiries Qumsiyeh, porta-voz do Ministério do Turismo Palestino.

Belém é um centro importante na história do cristianismo, mas os cristãos constituem apenas uma pequena percentagem dos cerca de 14 milhões de pessoas espalhadas pela Terra Santa. 

Há cerca de 182.000 cristãos em Israel, 50.000 na Cisjordânia e em Jerusalém e 1.300 em Gaza, de acordo com o Departamento de Estado norte-americano.

Embora a guerra em Gaza tenha dissuadido turistas e peregrinos, o conflito também provocou um aumento da violência na Cisjordânia, com mais de 800 palestinianos mortos por fogo israelita e dezenas de israelitas mortos em ataques de milícias palestinianas.

Desde o ataque de 07 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra, o acesso a Belém e a outras cidades palestinianas da Cisjordânia tem sido difícil, com longas filas de automobilistas à espera de passar pelos postos de controlo militares israelitas. 

As restrições também impediram que cerca de 150.000 palestinianos deixassem o território para trabalhar em Israel, provocando uma contração de 25% da economia local.

Mais de 45.000 palestinianos foram mortos em Gaza, de acordo com as autoridades sanitárias locais, e cerca de 90% dos 2,3 milhões de habitantes do território foram deslocados. As autoridades dizem que mais de metade dos mortos são mulheres e crianças, embora não indiquem quantos são civis e quantos são combatentes.

No ataque de 07 de outubro ao sul de Israel, as milícias lideradas pelo Hamas mataram cerca de 1.200 pessoas, na sua maioria civis, e fizeram mais de 250 reféns.

Leia Também: Médio Oriente? "Todas as guerras têm regras e todas foram violadas"

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