ISIS-K. Quem são os radicais responsáveis pelo atentado em Cabul?

Falamos do Estado Islâmico da Província de Khorasan, inimigos de longa data dos EUA e dos talibãs.

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Notícias ao Minuto com Lusa
27/08/2021 11:27 ‧ 27/08/2021 por Notícias ao Minuto com Lusa

Mundo

Afeganistão

O Estado Islâmico da Província de Khorasan (ISIS-K ou ISKP, na sigla em Inglês) foi o responsável pelos atentados mortais de quinta-feira fora do aeroporto de Cabul, no Afeganistão, que fizeram dezenas de mortos, incluindo 13 militares dos EUA. Estes radicais islâmicos, também conhecidos como IS-K, são inimigos de longa data dos EUA e dos talibãs.

Formado por antigos membros do Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP, os talibãs paquistaneses), o ISIS-K é um afiliado do Estado Islâmico (EI), que atua sobretudo no Afeganistão e no Paquistão.

Pouco depois do EI ter proclamado um "califado" no Iraque e na Síria em 2014, antigos membros do TTP declararam a sua lealdade ao líder do grupo, Abu Bakr al-Baghdadi. Juntaram-se a eles dissentes talibãs afegãos e, no início de 2015, o EI reconheceu oficialmente a criação da sua província ('wilaya') do Khorasan.

O Khorasan é o antigo nome dado a uma região que incluía partes do atual Afeganistão, Paquistão, Irão e a Ásia Central.

Este grupo, que surgiu em meados de 2014, nunca foi responsável por controlar grande parte de território no Afeganistão, centrando a sua ação em ataques suicidas, emboscadas e outros ataques com guerrilheiros.

Os ISIS-K já perderam várias batalhas contra os EUA e os talibãs, mas isso não os impediu de continuar a sua progressão e prova disso foi o duplo atentado desta quinta-feira, que vitimou dezenas de pessoas em Cabul, incluindo 13 militares dos EUA. Esta foi, sublinhe-se, a primeira grande ofensiva destes radicais desde que os talibãs assumiram o poder no Afeganistão, no passado dia 15.  

Seth Jones, especialista em terrorismo do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, citado pelo Los Angeles Times, classificou este atentado como "uma vergonha para os talibãs", já que os IS-K conseguiram "enganar os talibãs, fazendo com que homens-bomba passassem pelas linhas [de segurança], e alvejassem tanto os Estados Unidos quanto os afegãos no aeroporto”.

Os ataques atribuídos ao IS-K

Acredita-se ainda que estes radicais islâmicos tenham sido os autores de um atentado a uma maternidade, em que homens armados mataram mulheres grávidas antes de se fazerem explodir. Nesse mesmo dia, o grupo orquestrou um ataque num funeral, matando 32 pessoas. 

Em agosto de 2019, revela ainda a imprensa internacional, o EI-K reivindicou a autoria de um atentado contra os xiitas durante um casamento em Cabul que deixou 91 mortos.

O ISKP reivindicou alguns dos atentados mais mortíferos dos últimos anos no Afeganistão e no Paquistão. Massacrou civis em mesquitas, hospitais e outros locais públicos. O grupo, extremista sunita, tem como alvo principal os muçulmanos que considera hereges, em particular os xiitas.

Reação do ISIS-K à vitória dos talibãs

Enquanto inimigo, o Estado Islâmico da Província de Khorasan não reagiu nada bem à vitória dos talibãs. Mais ainda. Estes radicais apontam o dedo aos acordo assinado entre Washington e os talibãs que ditou a retirada das tropas norte-americanas. 

Após a sua entrada em Cabul e a tomada do poder a 15 de agosto, os talibãs receberam felicitações de vários grupos 'jiahistas', mas não do EI.

No entanto, o ISKP pode ganhar com o desmoronamento do Estado afegão. Segundo "Mr. Q", um especialista ocidental sobre o grupo que divulga a sua investigação com aquele pseudónimo na rede social Twitter, o grupo realizou 216 ataques entre 1 de janeiro e 11 de agosto, contra 34 no mesmo período do ano passado.

"Isto faz do Afeganistão uma das províncias mais dinâmicas do EI", disse "Mr. Q" a semana passada à agência France-Presse, adiantando que "a vitória dos talibãs também 'dá oxigénio' ao ISKP".

Quais são as relações entre o ISKP e os talibãs? 

Embora ambos os grupos sejam sunitas radicais, têm divergências em termos de teologia assim como de estratégia e são concorrentes em relação à incorporação da 'jihad' [guerra santa].

O ISKP, que chegou a descrever os talibãs como apóstatas em comunicados, enfrentou a repressão destes em relação aos seus dissidentes e não conseguiu expandir o seu território, do contrário do EI no Iraque e na Síria.

O ISKP opôs-se à repressão dos talibãs contra os seus dissidentes e não conseguiu expandir seu território, ao contrário do EI no Iraque e na Síria.

Em 2019, o exército afegão, após operações com os Estados Unidos, anunciou que o ISKP tinha sido derrotado na província de Nangarhar.

Segundo Washington e a ONU, desde então, o grupo terrorista tem agido praticamente apenas através das suas células adormecidas, com ataques mediáticos.

Qual é a ameaça no aeroporto de Cabul?

As autoridades norte-americanas dizem que o aeroporto está protegido pelos seus soldados e é neste local onde se concentraram milhares de afegãos que querem abandonar o país. Daí a ameaça direta do ISKP.

Os Estados Unidos, a Austrália e o Reino Unido apelaram na noite de quarta-feira para os seus cidadãos se afastarem o mais rapidamente possível, devido a ameaças "terroristas".

Nos últimos dias, os aviões de transporte militar que saem de Cabul têm utilizado engodos que visam desviar mísseis, indicou a AFP.

Leia Também: Afeganistão: Que ameaça representa o grupo 'jihadista' Estado Islâmico?

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