Salah Abdeslam, o alegado terrorista de 31 anos, interveio sem que o tribunal lhe tivesse concedido a palavra, quando os advogados de Farid Kharkhach, outro dos acusados e que também se encontra detido, solicitaram uma alteração das suas condições de detenção, ao alegarem que sofre de depressão.
Abdeslam levantou-se e queixou-se no tribunal sobre o regime a que estão submetidos na prisão. "Perigosos ou não, somos homens, somos seres humanos. Temos direitos. Tratam-nos como cães".
"Há mais de seis anos que me tratam como um cão. Não me queixei por uma única razão, porque quando morrer, ressuscitarei", disse.
O presidente do Tribunal Criminal de Paris, Jean-Louis Péries, interrompeu-o e fez questão de o calar com um tom de ironia, ao assinalar que aquele "não era um tribunal eclesiástico".
O incidente teve origem nas petições dos advogados de Kharkhach, onde referem que o detido foi forçado a submeter-se, totalmente nu, a dois registos consecutivos para a audiência.
A queixa também incide no regime de isolamento que lhe foi aplicado apesar de não ser considerado perigoso, e nas condições do estabelecimento prisional, que o próprio Péries comprovou durante uma visita às instalações.
Esta não foi a única intervenção não autorizada de Abdeslam no primeiro dia do processo, em que estão indiciados 20 homens pelo seu suposto envolvimento, em diversos graus, nos atentados contra o Bataclan e no Stade de França, com um balanço de 130 mortos e várias centenas de feridos.
No início da audiência, e quando o presidente do tribunal iniciava as habituais verificações de identidade dos réus, o jovem franco-marroquino afirmou repentinamente que "Alá é o único deus e Maomé o seu profeta".
De seguida, e quanto foi interrogado por Péries sobre o seu trabalho respondeu que abandonou todas as profissões para se converter "num combatente do Estado Islâmico".
O julgamento deve prolongar-se até maio de 2022. Devido às acusações que lhe são imputadas, Abdeslam poderá ser condenado a prisão perpétua.
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