Michelle Bachelet destaca preocupação com mulheres afegãs

A alta comissária para os Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, declarou-se hoje preocupada com o tratamento dado às mulheres e com a repressão cada vez mais violenta das vozes dissidentes no Afeganistão.

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Lusa
13/09/2021 12:47 ‧ 13/09/2021 por Lusa

Mundo

Direitos Humanos

"Contrariamente aos compromissos dos talibãs de defender os direitos das mulheres, nas últimas três semanas as mulheres têm sido gradualmente excluídas da esfera pública", disse Bachelet na abertura da 48.ª sessão do Conselho dos Direitos Humanos em Genebra.

A responsável das Nações Unidas denunciou que raparigas com mais de 12 anos foram proibidas de frequentar a escola em algumas zonas do país e que vários departamentos de proteção à mulher foram desmantelados e os seus funcionários ameaçados.

"Associações de mulheres da sociedade civil foram acusadas de serem obscenas ou de espalhar ideias contra o islão", disse ainda Bachelet, assinalando que em algumas zonas do Afeganistão as mulheres já estão proibidas de sair sem um acompanhante masculino.

A alta comissária denunciou igualmente buscas "porta a porta" de membros do antigo governo, de militares ou de pessoas que trabalharam com as forças estrangeiras até recentemente estacionadas no país, bem como ameaças e tentativas de intimidação contra organizações não-governamentais ou funcionários da ONU, ao contrário das promessas de amnistia feitas pelos novos homens fortes em Cabul.

"Em alguns casos os responsáveis foram libertados e noutros foram encontrados mortos", disse, criticando também a repressão "cada vez mais violenta" de manifestações pacíficas e de jornalistas que fazem a sua cobertura no Afeganistão.

Perante o conselho de 47 membros, Bachelet declarou-se ainda "desapontada" com a falta de diversidade do governo dos talibãs.

"Estou desapontada com a falta de inclusão do que se designa governo de transição, que não inclui mulheres e tem poucos membros não pasthuns", disse.

Todos os membros do governo dirigido por Mohammad Hassan Akhund, antigo colaborador próximo do fundador do movimento fundamentalista, o mullah Omar, morto em 2013, são talibãs.

Michelle Bachelet reiterou os seus apelos ao conselho para criar um mecanismo específico que permita acompanhar a evolução da situação dos direitos humanos no país e manter o organismo informado.

Pediu ainda a todos os Estados que "usem a sua influência junto das talibãs para exigir o respeito pelos direitos humanos, com especial atenção para as mulheres e raparigas e os membros de minorias étnicas e religiosas".

Após quase duas décadas de presença de forças militares norte-americanas e da NATO, os talibãs tomaram o poder em Cabul a 15 de agosto, culminando uma rápida ofensiva que os levou a controlar as capitais de 33 das 34 províncias afegãs em apenas dez dias.

Desde essa altura, os combatentes islamitas radicais asseguraram em várias ocasiões a intenção de formar um Governo islâmico "inclusivo", que representasse todas as tribos e etnias do Afeganistão.

Os talibãs também disseram que as raparigas poderiam estudar e as mulheres trabalhar no respeito pela lei islâmica. A comunidade internacional advertiu que julgará o movimento fundamentalista pelas suas ações, nomeadamente quanto às promessas de respeitarem os direitos das mulheres.

Leia Também: ONU procura consensos para ajudar os afegãos e advertir os talibãs

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