"Desde o primeiro dia que mantive uma abordagem firme e justa com o Irão", declarou Rafael Grossi perante os media em Viena, quando foi questionado sobre a eventualidade de endurecer as posições face a Teerão.
O acordo anunciado no domingo, após uma visita relâmpago de Grossi a Teerão, fornece aos inspetores do organismo autónomo da ONU a possibilidade de verificar o material de vigilância nas instalações iranianas no âmbito do acordo de 2015.
Em consequência, vão poder deslocar-se aos locais para trocar os discos duros, reparar ou substituir as câmaras se necessário, num exclusivo processo de manutenção e que não prevê que fiquem na posse dos dados.
Desde fevereiro que Teerão recusa fornecer imagens das câmaras, mas comprometeu-se em transmiti-las caso as negociações diplomáticas para salvar o acordo, muito afetado em 2018 pela retirada dos Estados Unidos, cheguem a bom termo.
Hoje, os media conservadores iranianos congratularam-se pelo facto de AIEA permanecer impedida de ter acesso aos cartões de memória das câmaras, e enquanto prossegue o reforço do programa nuclear iraniano.
Interrogado sobre a amplitude da tarefa quando chegar o momento de visualizar todas as imagens, Grossi admitiu tratar-se de uma operação "que, em certa medida, nunca foi feita".
Mas "as nossas equipas técnicas têm essa capacidade (...), sem qualquer dúvida", garantiu.
Em simultâneo, voltou a manifestar a sua preocupação sobre quatro locais não declarados, onde foram detetados materiais nucleares, e disse esperar uma "conversa muito clara" com o novo Governo iraniano no decurso da sua próxima visita a Teerão, prevista para "muito breve".
O Presidente conservador Ebrahim Raissi sucedeu ao moderado Hassan Rohani, impulsionador do acordo nuclear de 2015 pela parte iraniana.
Apesar da "linha dura" do novo Executivo sobre a questão nuclear, "devemos seguir em frente" e "solucionar o conjunto" destes problemas, considerou o responsável da AIEA no início da reunião trimestral do Conselho de governadores da Agência.
O acordo de 2015 designado Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, assinado entre Teerão e os EUA, Reino Unido, França, China, Rússia e ainda Alemanha) garantia ao Irão uma suavização das sanções ocidentais e da ONU em troca de um controlo estrito do seu programa nuclear, sob supervisão da ONU.
Em represália pela retirada dos Estados Unidos, em 2018, e pela nova imposição de severas sanções pela administração do então Presidente Donald Trump, o Irão abandonou a maioria dos seus compromissos.
Após a sua eleição, o Presidente dos EUA, Joe Biden, que sucedeu a Donald Trump, afirmou pretender o regresso de Washington ao acordo, enquanto prosseguem novas negociações para tentar retomar esta iniciativa.
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