Pouco antes da visita do pontífice, a estrada de acesso foi reparada e os eletricistas levaram energia ao bairro de Lunik IX, assolado por profundos problemas sociais.
"Colocar as pessoas num gueto não resolve nada. Quando se alimenta a oclusão, mais cedo ou mais tarde a raiva inflama-se. O caminho para a coexistência pacífica é a integração", defendeu o Papa argentino, depois de ouvir os testemunhos dos membros da comunidade.
A pobreza e a lotação são males crónicos no bairro, onde 4.500 habitantes vivem amontoados num espaço concebido para metade. Muitas habitações não têm eletricidade, aquecimento, gás ou água corrente, cortadas devido a contas não pagas.
"Vocês na Igreja não estão à margem. Vocês estão no coração da Igreja. Que ninguém vos deixe, a vocês ou qualquer outra pessoa, fora da Igreja", declarou.
O pontífice de 84 anos admitiu que às vezes "não é fácil superar o preconceito, mesmo entre cristãos", porque às vezes algumas pessoas "são vistas como obstáculos ou adversários e os julgamentos são feitos sem conhecer os seus rostos e as suas histórias".
"Caros irmãos e irmãs, demasiadas vezes vocês foram objeto de preconceitos e julgamentos impiedosos, de estereótipos discriminatórios, de palavras e gestos difamatórios", lamentou.
Ao mesmo tempo, aconselhou esta comunidade isolada a fazer "escolhas corajosas" para os seus filhos, especialmente na educação, para "que cresçam bem enraizados nas suas origens, mas ao mesmo tempo sem excluir qualquer possibilidade".
Também os encorajou a "superar medos" através de "trabalho honesto com dignidade para ganhar o pão de cada dia", exortando a necessidade de "passar do preconceito ao diálogo, da oclusão à integração".
O Papa Francisco dirigiu-se ainda às crianças, mais de 400 neste bairro, com altas percentagens de absentismo escolar.
"Os seus grandes sonhos não podem ser esmagados contra as nossas barreiras. Querem crescer juntamente com os outros, sem obstáculos nem exclusões", vincou.
A parte oriental da Eslováquia, um país da União Europeia com 5,4 milhões de habitantes, está entre os locais mais pobres da Europa, com um Produto Interno Bruto (PIB) per capita muito baixo, juntamente com algumas zonas da Bulgária e Roménia.
A comunidade cigana da Eslováquia conta com 400.000 pessoas, das quais quase 20% vivem em pobreza extrema nos mais de 600 bairros de lata, principalmente no sul e este do país.
Nikola e René Harakaly, de 28 e 29 anos, respetivamente, um casal com dois filhos que cresceram nesta área estudaram com a ajuda dos irmãos salesianos e, desde então, conseguiram integrar-se e encontrar trabalho.
"Os nossos pais encorajaram-nos a ir contra a corrente. Fizemos um empréstimo, comprámos um apartamento e casámos noutra parte de Kosice. Hoje, graças a tudo isto, oferecemos aos nossos filhos uma vida mais feliz, mais digna e mais pacífica", relataram.
De acordo com Iveta Duchonova, responsável do gabinete do delegado governamental para a comunidade cigana, "em 2016, um inquérito da União Europeia sobre minorias e discriminação revelou que 54% dos ciganos na Eslováquia eram discriminados devido à sua etnia".
Esta foi a primeira viagem do pontífice argentino ao estrangeiro desde que foi operado ao cólon no início de julho.
Leia Também: Papa defende "fraternidade" e união para superar a crise pandémica