"Governo deve informar os moçambicanos sobre acordos assinados com o regime de Kigali durante a visita de Paul Kagamé", refere o Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD) em comunicado.
A visita de trabalho do chefe de Estado ruandês começou na sexta-feira na província de Cabo Delgado e, no domingo, Kagamé participou nas celebrações do dia 25 de setembro, Dia das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, numa agenda de trabalho que resultou na tomada de "decisões importantes", segundo o chefe de Estado moçambicano, que não avançou mais detalhes.
Para o CDD, os acordos e decisões tomadas durante os encontros entre Nyusi e Kagamé deviam ter sido divulgadas pelo chefe de Estado moçambicano, principalmente num momento em que as forças ruandesas apoiam Moçambique no combate contra os grupos insurgentes em Cabo Delgado.
"O secretismo em volta das decisões importantes e dos acordos assinados com o regime de Kigali acontece numa altura em que não está claro que preço é que Moçambique vai pagar pela intervenção militar do Ruanda na luta contra o extremismo violento em Cabo Delgado", refere-se no comunicado do CDD.
A organização não-governamental assinala ainda que a visita de Paul Kagamé aumentou o medo da comunidade ruandesa residente em Moçambique, que se tem queixado de perseguição por se oporem ao regime de Kigali.
As preocupações dos ruandeses refugiados em Moçambique voltaram à ribalta no dia 13 com o homicídio, a tiro, na cidade da Matola, de um empresário ruandês refugiado em Moçambique desde 1996, crime por esclarecer e que ocorre num momento marcado por uma aproximação clara entre os governos de Maputo e Kigali.
O Ruanda foi o primeiro país estrangeiro a colocar tropas no terreno em Moçambique, ao abrigo de um acordo bilateral, para combater os grupos armados que têm protagonizado ataques armados desde 2017 na província de Cabo Delgado, num conflito que já provocou 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.
Com o apoio dos mil soldados ruandeses, Maputo reconquistou "importantes" bases dos rebeldes e localidades que haviam sido ocupadas durante os quase quatro anos de insurgência armada em Cabo Delgado.
Líder do Ruanda desde 1994, a Paul Kagamé é atribuído o desenvolvimento do país após o genocídio de tutsis daquele ano, mas o chefe de Estado é também acusado de limitar a liberdade de expressão e de reprimir a oposição.
A organização Human Rights Watch (HRW) acusou no final de março as autoridades ruandesas de estarem a limitar a população que recorre à Internet para se expressar no país, depois de restringirem a liberdade de expressão nos órgãos de comunicação social.
A restrição de liberdades tem também sido denunciada e condenada por outras organizações como a Repórteres sem Fronteiras e a União Europeia (UE).
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