Pentágono admite ter sobreestimado exército afegão

O Pentágono admitiu hoje ter subestimado a desmoralização do exército afegão, cujo colapso nos últimos dias de retirada das forças militares dos EUA em Cabul permitiu aos talibãs chegar ao poder sem dificuldade.

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Lusa
28/09/2021 19:17 ‧ 28/09/2021 por Lusa

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Afeganistão

 

"Construímos um Estado, mas não conseguimos criar uma nação", admitiu o secretário de Defesa norte-americano, Lloyd Austin, que explicava aos senadores o fim caótico da guerra no Afeganistão.

"O facto de o exército afegão - que treinámos com os nossos aliados - ter entrado em colapso (muitas vezes sem disparar uma bala) apanhou-nos de surpresa", explicou Austin.

"Não conseguimos perceber o nível de corrupção e incompetência dos seus altos oficiais; não medimos os danos causados pelas mudanças frequentes e inexplicáveis decididas pelo Presidente Ashraf Ghani no comando; não fomos capazes de prever o efeito 'bola de neve' dos acordos feitos pelos talibãs com quatro comandantes locais após o acordo de Doha; nem percebemos como o acordo de Doha desmoralizou o exército afegão", enumerou o secretário de Defesa, durante uma sessão no Senado dos EUA.

Também o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas norte-americanas, general Mark Milley, admitiu perante os senadores que a decisão de retirar os conselheiros militares destacados para unidades afegãs contribuiu para sobrestimar a capacidade do exército afegão.

"Não fomos capazes de avaliar totalmente o nível moral e a vontade do comando. Podemos contar aviões, camiões, veículos, carros (...), mas não conseguimos medir o coração humano com uma máquina", explicou o general.

O Governo do ex-Presidente Donald Trump assinou em 29 de fevereiro de 2020, em Doha, no Qatar, um acordo histórico com os talibãs, que previa a retirada de todos os soldados estrangeiros antes de 01 de maio de 2021, em troca de garantias de segurança e da abertura de negociações diretas entre insurgentes e as autoridades de Cabul.

Após vários meses de reflexão, o atual Presidente, Joe Biden, que tomou posse em janeiro passado, decidiu respeitar esse acordo, ao mesmo tempo que prorrogou o prazo de retirada para 31 de agosto.

Hoje, na sessão do Senado, foram notadas divergências entre o secretário de Defesa e o chefe do Estado-Maior, quando um dos senadores os interrogou sobre se a reputação dos Estados Unidos tinha ficado "danificada" por causa do processo de retirada dos soldados norte-americanos no Afeganistão.

"Acho que a nossa credibilidade junto dos nossos aliados e parceiros no mundo, assim como junto os nossos adversários, está a ser reexaminada com muito cuidado. 'Danificada' é uma palavra que pode ser usada, sim", disse Mark Milley.

"Acho que a nossa credibilidade continua forte", respondeu Austin, discordando do chefe do Estado-Maior.

Leia Também: Portugal quer retirar 72 afegãos que colaboraram com militares

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